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Entendendo o que é Complexo de Édipo

Entendendo o que é Complexo de Édipo

Antes de Falar sobre o complexo de Édipo, é importante deixar claro que Freud usou este mito como base para o conceito, argumentando que ele simboliza os desejos inconscientes que todos os seres humanos supostamente enfrentam durante o desenvolvimento psicossexual.

Freud em os “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905), fala sobre o menino que desenvolve sentimentos amorosos pela mãe e vê o pai como um rival. Já no caso de uma menina, o desejo é direcionado ao pai, com sentimentos conflitantes em relação à mãe por ela ser castrada.

Na teoria freudiana, a mãe é vista como a primeira figura de amor da criança. Ela representa o objeto do desejo inicial, e o relacionamento com ela molda as futuras relações amorosas do indivíduo. Na sociedade, isso reflete a importância do papel materno na formação dos vínculos afetivos e na educação inicial da criança. No caso do pai, ele se trata da figura de autoridade que introduz a criança ao mundo das leis e regras sociais. Ele é visto como o “agente” da castração, sendo crucial na introdução da criança à realidade externa e à aceitação das normas culturais e morais.

Sendo assim, é importante compreender que o Complexo de Édipo em sua teoria vai muito mais além de que um menino que deseja sua mãe e uma menina que deseja o pai. O Complexo de Édipo é visto como uma relação triangular em que se forma papéis e funções sociais. O Complexo de Édipo e a Castração são a entrada do Sujeito nas normas; é o momento em que o “EU” vai se formando.

Complexo de Édipo responsável na Formação do “EU” e o Super-EU

A Formação do “EU” a partir da Alteridade:

No início da vida, o bebê não distingue claramente entre si e o mundo externo, particularmente entre si e a figura materna. Para o bebê, a mãe não é um “outro” no sentido completo, mas uma extensão do próprio ser, uma fonte de satisfação das necessidades. Neste estágio, o conceito de alteridade ainda não está plenamente desenvolvido.

Conforme a criança começa a se desenvolver, ela passa a reconhecer que a mãe é uma entidade separada, com desejos e vontades próprias. Esse reconhecimento é o primeiro passo na constituição do “eu” em contraste com o “outro”. Esse processo de diferenciação é essencialmente a emergência do “eu” em oposição ao “não-eu”, onde o “não-eu” começa a ser identificado como a mãe, e, posteriormente, outras figuras externas.

A Sedução Materna

Antes da emergência da rivalidade que caracteriza o Complexo de Édipo, a relação da criança com a figura materna pode ser vista como uma tentativa de “sedução” no sentido amplo, onde a criança busca conquistar e manter o amor e a atenção da mãe. Esta sedução não deve ser entendida de forma sexualizada, mas como um esforço para garantir a presença e a resposta da mãe, o que é fundamental para o sentimento de segurança da criança.

A mãe, neste contexto, é o primeiro “outro” que a criança reconhece como separado, e seu desejo de atrair e manter o afeto materno é uma das forças motivadoras do desenvolvimento psíquico inicial. A partir dessa relação, a criança começa a formar um senso de si mesma como um ser separado, mas também em relação ao desejo do outro, que, neste caso, é a mãe.

A Formação do Super-Eu a partir da Figura Paterna:

A figura paterna ganha importância na teoria do Complexo de Édipo, pois é através da introdução do pai que a criança começa a entender as regras e limites impostos pela sociedade. O pai representa a lei, o interdito, e é o principal agente na formação do super-eu, a parte da psique que internaliza as normas morais e sociais.

O super-eu é, em grande parte, formado a partir da identificação com o pai ou com as figuras de autoridade, e é através desta identificação que a criança internaliza as proibições e os valores que regem o comportamento social. O pai, portanto, assume um papel crucial no desenvolvimento da capacidade da criança de lidar com a alteridade de forma madura e socialmente aceitável.

A Rivalidade e o Papel do Pai

Embora a rivalidade entre a criança e o pai seja uma parte fundamental do Complexo de Édipo, ela surge em um segundo momento, após a criança ter estabelecido uma relação de alteridade com a mãe. A figura paterna, ao impor limites e representar a lei, provoca uma reorientação do desejo da criança, que deve renunciar ao desejo de possuir a mãe e, em vez disso, identificar-se com o pai, adotando os valores e regras que ele representa.

Assim, o “eu” é moldado não apenas pela relação inicial com a mãe, mas também pela intervenção do pai, que ajuda a criança a navegar a complexa dinâmica de desejo, identificação e renúncia. O resultado é a formação de uma identidade que é capaz de reconhecer e respeitar a alteridade, não apenas como uma fonte de rivalidade, mas como uma base para a construção de relações sociais maduras.

O Complexo de Édipo e os papéis de gênero

Outro fator importante é compreender que na época de Freud é evidente que sua teoria estava levando em consideração os fatores sociais da época que refletia uma visão tradicional dos papéis de gênero, onde a mãe era associada ao cuidado e à nutrição, e o pai à autoridade e à disciplina. Esses papéis moldam as expectativas sociais sobre os comportamentos “adequados” de homens e mulheres, influenciando a dinâmica familiar e social.

Sendo assim o complexo de Édipo não se resume ao campo biológico e sim, cultural e social que forma uma Linguagem que mais adiante podemos ver por meio de Jacques Lacan, um dos mais influentes psicanalistas pós-freudianos que reinterpretou e expandiu as ideias de Freud, incluindo o Complexo de Édipo e o conceito de castração, acrescentando uma dimensão linguística e simbólica.

Voltando para a questão do Complexo de Édipo como uma Relação à Três, é fundamental a existência desse terceiro elemento, o rival, é crucial. Ele não apenas impede a realização do desejo da criança, mas também se torna um modelo com o qual a criança pode se identificar. Essa identificação é parte do processo de resolução do Complexo de Édipo e é fundamental para a formação da identidade e do superego da criança.

A Influência do Triângulo Edípico nas Relações Adultas

Na vida adulta, essa estrutura triangular inicial influencia a forma como os indivíduos se envolvem em relacionamentos românticos e interpessoais. A tendência é que, inconscientemente, as pessoas busquem recriar esse triângulo original em seus relacionamentos, com um “terceiro elemento” que pode assumir diversas formas.

Este terceiro elemento pode ser uma pessoa real (como um rival amoroso), mas também pode ser algo mais abstrato, como o trabalho, um hobby, ou até mesmo uma ideia ou ideal. O importante é que o triângulo edípico inicial cria uma espécie de “padrão” psicológico, onde a pessoa sente que um relacionamento só é pleno ou excitante se houver algum tipo de tensão ou competição envolvendo um terceiro elemento.

Por exemplo, em um relacionamento romântico, uma pessoa pode sentir que precisa competir pela atenção do parceiro com o trabalho deste, com amigos, ou até mesmo com os filhos. Ou, em outros casos, a pessoa pode inconscientemente criar situações em que o parceiro se sinta compelido a competir por sua atenção, mantendo viva a dinâmica edípica original.

Em outras palavras, seria assustador uma relação sem o terceiro elemento em que o sujeito pudesse mergulhar em um amor tão perfeito que o pudesse o matar. Sendo assim o terceiro elemento pode ser até visto como uma forma de se proteger de uma conexão plena com o objeto de amor.

A Dinâmica do Terceiro Elemento no Cotidiano

Este padrão triangular não se limita apenas às relações românticas, mas pode se manifestar em muitas outras áreas da vida. No ambiente de trabalho, por exemplo, alguém pode sentir a necessidade de competir com um colega ou com o chefe, replicando assim a dinâmica original do Complexo de Édipo. Da mesma forma, em amizades ou grupos sociais, pode haver uma busca por manter uma certa tensão ou competição, com um terceiro elemento atuando como um ponto de disputa ou de comparação.

Essa repetição do padrão edípico pode ser tanto uma fonte de prazer quanto de angústia. Por um lado, ela mantém viva a excitação e o drama emocional; por outro, pode impedir a formação de relacionamentos mais estáveis e saudáveis.

O entendimento de como o Complexo de Édipo molda essa busca por triangulações em nossa vida cotidiana pode ser encontrado em textos como “Sobre a Psicodinâmica da Vida Cotidiana” e “A Repetição, o Amor e o Mal-Estar na Civilização” (1930), onde Freud discute como os padrões inconscientes formados na infância são repetidos na vida adulta.

Por que na fase adulta e durante a vida é difícil quebrar padrões de comportamentos e qual a relação disso com o Complexo de Édipo?

É importante saber que o Complexo de Édipo não serve para limitar um sujeito a um único funcionamento psíquico como algo absoluto ou como uma forma de justificar seus comportamentos. Não podemos negar que o Complexo de Édipo ganhe força no psiquismo, e isso se dá justamente por todos os acontecimentos que o antecedem e que ocorrem durante as fases do desenvolvimento psicossexual sendo elas:

Durante essas Fases do desenvolvimento e como o sujeito lida com elas, é um fator que direciona a forma como a criança vai internalizando as regras. É fundamental compreender que todo o sujeito tem sua energia libidinal; sua pulsão. Durante as fases do desenvolvimento a criança vai internalizando a forma como ela conduz sua pulsão e por meio da aquisição das regras, a repressão social e todas as normas, seu “EU” vai se formando o que leva esse sujeito a criar uma imagem de si. É justamente essa imagem de si que é desconfortável romper na fase adulta.

Outro fator indispensável é compreender que além do “EU” que se forma, toda a forma de relacionamento que o sujeito vivencia se torna um acontecimento reconhecido. Então a tendência a repetir padrões está ligada às experiências que já são reconhecidas e que se tornam confortáveis de certa forma. Mesmo que as experiências reconhecidas sejam ruins, a tendência é permanecer em um sofrimento que se aprendeu ao invés de lidar com algo totalmente desconhecido e que foge do controle.

A relação entre as estruturas psíquicas e o Complexo de Édipo

As estruturas psíquicas – neurose, psicose e perversão – representam diferentes maneiras pelas quais o sujeito organiza e lida com seus conflitos internos e desejos. A neurose, por exemplo, é uma estrutura marcada pela tentativa de controle e pela internalização de regras. Isso ocorre porque, durante o desenvolvimento psíquico, especialmente no contexto do Complexo de Édipo, a criança é confrontada com desejos e pulsões que precisam ser reprimidos ou redirecionados. A neurose, portanto, é uma resposta a esses conflitos, funcionando como um mecanismo de defesa que visa afastar e evitar o acesso a conteúdos reprimidos. Essa estrutura psíquica leva o sujeito a buscar segurança em padrões familiares de comportamento e crença, que, embora possam limitar sua liberdade, oferecem uma sensação de proteção contra a ansiedade gerada pelos conflitos internos.

Na psicose, por outro lado, há uma ruptura mais radical com a realidade, onde os conflitos não são reprimidos, mas sim reorganizados de maneira que distorce a percepção da realidade. Já a perversão envolve uma relação diferente com a lei e a norma, onde o sujeito encontra formas de satisfazer seus desejos fora das convenções sociais.

O Complexo de Édipo é central na formação dessas estruturas, pois é nesse momento que a criança lida com os primeiros grandes conflitos relacionados à autoridade, desejo e identidade. A forma como esses conflitos são resolvidos ou não resolvidos durante essa fase crucial molda a estrutura psíquica do sujeito, determinando como ele lidará com seus desejos, conflitos e com o mundo ao longo da vida.

Reinterpretação do Complexo de Édipo e da Castração e Falta segundo Lacan

Isso nos leva a pensar o quanto o Complexo de Édipo é um emaranhado de acontecimentos e não simplesmente uma questão biológica e sim da aquisição das regras (Neurose) que Lacan irá chamar de Linguagem. Na perspectiva lacaniana, o que importa não é tanto a identidade de gênero dos pais, mas as funções simbólicas que eles exercem. A função materna está associada à nutrição e ao cuidado inicial, enquanto a função paterna é relacionada à introdução da criança na ordem simbólica, ou seja, no mundo das leis, normas e linguagem.

O conceito de castração na psicanálise lacaniana está relacionado à aceitação da falta e à entrada na ordem simbólica, e não necessariamente à presença de uma figura paterna masculina. Portanto, uma criança criada por pais do mesmo sexo pode vivenciar a castração simbólica através das funções parentais desempenhadas, desde que uma estrutura simbólica de lei e desejo seja estabelecida na família. A criança, mesmo em uma família homo parental, enfrentará a questão da falta, percebendo que não pode ser o objeto completo de desejo de nenhum dos pais.

Essa percepção da falta é essencial para o desenvolvimento do desejo e da subjetividade que seria o Complexo de Édipo e a Relação com o terceiro elemento que causa essa falta e inacessibilidade de completude com o objeto de amor.

Escritos de Sigmund Freud sobre o Complexo de Édipo

  • “A Interpretação dos Sonhos” (1900)

Freud usa o mito de Édipo para introduzir o conceito do Complexo de Édipo, discutindo como os desejos inconscientes dos filhos pelos pais se manifestam nos sonhos.

  • “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905)

Este é o texto em que Freud apresenta formalmente o Complexo de Édipo e discute como ele se manifesta nas fases do desenvolvimento psicossexual, especialmente durante a fase fálica.

  • “Totem e Tabu” (1913)

Neste livro, Freud explora a origem das religiões, tabus e sociedades primitivas, relacionando o Complexo de Édipo à formação dos primeiros grupos sociais e à proibição do incesto.

  • “O Ego e o Id” (1923)

Freud discute o papel do Complexo de Édipo na formação do superego, que surge como resultado da internalização das figuras parentais.

  • “Sobre a Sexualidade Feminina” (1931)

Freud revisita o Complexo de Édipo, discutindo como ele se manifesta de forma diferente nas meninas e introduzindo o conceito de “inveja do pênis”.

  • “Inibição, Sintoma e Angústia” (1926)

Neste texto, Freud aborda o papel do Complexo de Édipo na formação de neuroses e outros distúrbios psíquicos.

Seminários de Jacques Lacan sobre o Complexo de Édipo

  • Seminário I: “Os Escritos Técnicos de Freud” (1953-1954)

Lacan começa a explorar as ideias freudianas, incluindo o Complexo de Édipo, e como ele se relaciona com a estruturação do sujeito.

  • Seminário III: “As Psicoses” (1955-1956)

Lacan discute o papel do Complexo de Édipo no desenvolvimento psíquico e suas implicações na psicose, comparando-o à neurose.

  • Seminário IV: “A Relação de Objeto” (1956-1957)

Este seminário é central para o entendimento do Complexo de Édipo em Lacan. Ele discute a relação do sujeito com o objeto de desejo e a função do pai no triângulo edípico.

  • Seminário V: “As Formações do Inconsciente” (1957-1958)

Lacan aprofunda a discussão sobre o Complexo de Édipo, focando em como o inconsciente é estruturado em torno da metáfora paterna e da castração simbólica.

  • Seminário XVII: “O Avesso da Psicanálise” (1969-1970)

Lacan revisita o Complexo de Édipo em um contexto mais avançado, ligando-o ao discurso do mestre e às questões de poder e autoridade.

  • Seminário XX: “Mais, Ainda” (1972-1973)

Embora centrado em outros temas, Lacan faz referências importantes ao Complexo de Édipo, especialmente em relação à diferença sexual e ao conceito de “Nome-do-Pai”.

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