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Estruturas Clínicas (Neurose/Histeria, Psicose, Perversão) segundo Lacan

Estruturas Clínicas (Neurose/Histeria, Psicose, Perversão) segundo Lacan

1. Introdução

As estruturas clínicas no pensamento de Jacques Lacan — neurose, psicose e perversão — ocupam um lugar central na psicanálise, pois oferecem uma chave para compreender a subjetividade humana. Diferente das categorias diagnósticas nosológicas tradicionais da psiquiatria, Lacan propôs que essas três formas de subjetivação derivam de uma relação particular do sujeito com a linguagem e o desejo, e, especialmente, com a função do “Nome-do-Pai”. Essas estruturas são modalidades de resposta às questões fundamentais que surgem do encontro do sujeito com a Lei simbólica, que organiza o desejo e a falta.

Este texto tem como objetivo aprofundar a compreensão das três estruturas clínicas a partir da teoria lacaniana, destacando suas diferenças fundamentais e a maneira como cada uma se articula em relação à Lei, ao desejo, ao sintoma e ao gozo. Compreender as nuances que Lacan propôs para cada estrutura é essencial tanto para o manejo clínico quanto para uma leitura mais sofisticada da subjetividade.

2. O Conceito de Estrutura Clínica em Lacan

Em Lacan, o termo “estrutura clínica” refere-se a modos de funcionamento subjetivo que estruturam a relação do sujeito com o desejo, o Outro e a linguagem. A noção de “estrutura” difere de uma classificação puramente categorial de patologias. Não se trata de classificar os sujeitos de acordo com um sistema de categorias fixas, mas de observar como eles se situam em relação ao inconsciente, à linguagem e à castração simbólica. A estrutura clínica, assim, refere-se à maneira pela qual cada sujeito responde à Lei simbólica e organiza seu desejo.

A grande chave diferencial entre as estruturas clínicas é o funcionamento do Nome-do-Pai, que Lacan entende como o significante fundamental que sustenta a entrada do sujeito na ordem simbólica. No entanto, a forma como o Nome-do-Pai é integrado ou recusado pelo sujeito gera diferenças fundamentais na constituição da neurose, psicose e perversão. Para a neurose, o Nome-do-Pai é recalcado; na psicose, ele é foracluído (excluído do simbólico); na perversão, há um desafio consciente e deliberado à função da Lei.

Essa perspectiva estruturalista de Lacan se opõe à ideia de que os fenômenos clínicos podem ser reduzidos a uma mera descrição de sintomas. Em vez disso, Lacan propõe que cada estrutura implica um modo de articulação específico entre o sujeito e o Outro, o desejo e o gozo.

3. Neurose: o Desejo e o Sujeito do Inconsciente

A neurose, na concepção lacaniana, está intrinsecamente ligada ao conflito entre o desejo e a Lei. O sujeito neurótico é aquele que se confronta com o desejo e a interdição do Outro, mas que não consegue satisfazê-lo plenamente devido à operação do recalque (Verwerfung), que impede que certos significantes fundamentais entrem no campo do simbólico. Na neurose, o sujeito é um sujeito do desejo inconsciente, sempre buscando e nunca encontrando uma satisfação plena.

Histeria

Na histeria, o sujeito se apresenta como dividido, constantemente insatisfeito e em busca de uma resposta do Outro. A histeria é marcada pela incerteza quanto à identidade e ao desejo do Outro, o que leva o sujeito histérico a se colocar como um enigma a ser decifrado pelo Outro. Na dinâmica da histeria, há uma constante insatisfação e uma demanda por reconhecimento, mas também uma recusa em aceitar qualquer resposta que venha do Outro. O sintoma histérico pode ser entendido como uma estratégia de manter o Outro em posição de impotência diante do enigma que o sujeito histérico representa.

A histeria é caracterizada por um movimento ambíguo de provocação e recusa. O desejo do sujeito histérico é constituído em torno de uma pergunta sobre o que o Outro deseja, mas essa pergunta nunca é plenamente respondida. Isso gera uma posição de insatisfação crônica, na qual o sujeito encontra no sintoma uma forma de sustentar seu desejo sem precisar confrontar diretamente o real da falta.

Neurose Obsessiva

Na neurose obsessiva, o sujeito se encontra dominado pela culpa e pela tentativa de controlar o desejo. O obsessivo busca manter o desejo sob controle, muitas vezes através de rituais ou pensamentos repetitivos que visam neutralizar a angústia causada pela impossibilidade de satisfazer plenamente o desejo. O sujeito obsessivo tenta dominar tanto o próprio desejo quanto o desejo do Outro, mas essa tentativa é sempre frustrada.

O obsessivo se coloca como um sujeito que tenta manter o controle sobre sua própria castração, diferentemente do histérico, que a encena como uma questão a ser resolvida pelo Outro. O sintoma obsessivo, portanto, está diretamente ligado à tentativa de dominação do desejo através da repetição e da culpabilização.

O Sintoma na Neurose

Para Lacan, o sintoma é um compromisso entre o desejo inconsciente e a repressão simbólica, um ponto de fixação em que o sujeito tenta negociar suas demandas com a Lei do Outro. Na neurose, o sintoma emerge como uma tentativa de lidar com o conflito entre o desejo e a Lei, e sua interpretação na análise é central para revelar o lugar do sujeito em relação ao inconsciente.

4. Psicose: Foraclusão e a Queda do Nome-do-Pai

Na psicose, o Nome-do-Pai é foracluído, ou seja, não é integrado ao campo simbólico. A foraclusão, conceito central no pensamento lacaniano sobre a psicose, refere-se à exclusão de um significante fundamental, o que impede que o sujeito acesse plenamente a dimensão da Lei simbólica. Como resultado, o sujeito psicótico experimenta o Real de forma intrusiva, sem o filtro protetor da significação simbólica.

O Fenômeno Psicótico

A ausência do Nome-do-Pai no simbólico permite que o Real invada a vida psíquica do sujeito psicótico sob a forma de alucinações e delírios. Esses fenômenos não são apenas expressões de uma desorganização mental, mas, para Lacan, representam uma intrusão do Real onde o simbólico falhou. O sujeito psicótico não consegue articular sua experiência em termos simbólicos, o que leva à formação de fenômenos de linguagem desarticulados, como vozes ou ideias delirantes que se impõem diretamente à sua experiência.

Paranóia, Esquizofrenia e Melancolia

Dentro da estrutura psicótica, Lacan diferencia subtipos como paranóia, esquizofrenia e melancolia, cada um representando uma forma distinta de lidar com a ausência do Nome-do-Pai. Na paranóia, por exemplo, o sujeito cria uma construção delirante para tentar dar conta da falta simbólica, atribuindo ao Outro intenções persecutórias ou megalomaníacas. Na esquizofrenia, a fragmentação do sujeito é mais pronunciada, com uma perda significativa da coesão simbólica, o que resulta em uma vivência desorganizada da realidade.

Já na melancolia, o sujeito enfrenta uma perda radical do objeto e uma identificação com essa perda, levando a uma experiência de desvalorização extrema e um colapso do sentido.

Sujeito Foracluído

O conceito de “sujeito foracluído” refere-se ao fato de que, na psicose, o sujeito não pode simbolizar a falta. Diferente do neurótico, que lida com a castração simbólica, o psicótico não tem acesso ao significante que representaria essa perda, o que o coloca em uma posição de vulnerabilidade diante do Real.

A vulnerabilidade do psicótico em relação ao Real ocorre porque o Real não é mediado pelo simbólico. Enquanto no neurótico o desejo é regulado pela falta, que é simbolizada pela Lei, no psicótico essa simbolização falha. Sem o significante primordial (o Nome-do-Pai) para organizar o desejo e a falta, o Real se apresenta de forma direta e insuportável. O sujeito psicótico, então, tenta preencher essa lacuna com delírios ou alucinações, que são tentativas falhas de domesticar o Real. No entanto, como essas tentativas não estão enraizadas no simbólico, elas não conseguem estabilizar o sujeito de forma duradoura.

A foraclusão impede que o sujeito psicótico tenha acesso ao significante que permitiria simbolizar a falta. Essa ausência faz com que o sujeito fique vulnerável à intrusão do Real, já que ele não tem as mesmas barreiras simbólicas que o neurótico possui. O Real, nesse contexto, aparece de forma avassaladora e direta, resultando em fenômenos psicóticos como alucinações, delírios e fragmentação do Eu.

5. Perversão: O Gozo e a Transgressão da Lei

A perversão, na teoria lacaniana, se caracteriza por uma relação peculiar com a Lei e o Nome-do-Pai. Ao contrário da neurose, onde a Lei é recalcada, ou da psicose, onde ela é foracluída, o sujeito perverso assume uma posição de desafio consciente à Lei. Na perversão, o gozo ocupa um lugar central, e o sujeito perverso busca ativamente transgredir a Lei para sustentar seu próprio desejo.

O Desafio ao Nome-do-Pai

O perverso reconhece a Lei simbólica, mas a transgride de maneira deliberada, buscando encontrar o gozo no ato de desafiar a autoridade paterna. Essa posição é fundamentalmente distinta da neurose e da psicose, pois, na perversão, o sujeito não se coloca como dividido entre o desejo e a Lei, mas como alguém que pode manipular a Lei em benefício próprio.

O Gozo e o Desejo do Outro

Na perversão, o gozo se dá através da relação com o desejo do Outro. O sujeito perverso se posiciona como aquele que pode satisfazer o desejo do Outro ao mesmo tempo em que desafia a Lei. Essa dinâmica se manifesta em práticas como o fetichismo, o voyeurismo e o sadomasoquismo, onde o sujeito busca uma satisfação que ultrapassa o limite simbólico da castração.

Exemplos Clínicos de Perversão

O fetichismo, por exemplo, envolve a substituição do objeto sexual por um objeto parcial que concentra todo o investimento libidinal do sujeito, permitindo-lhe evitar o confronto com a castração. O voyeurismo e o exibicionismo são outras formas de perversão, onde o sujeito encontra o gozo na posição de observar ou ser observado, novamente desafiando a Lei.

6. O Lugar do Analista nas Estruturas Clínicas

O papel do analista é central no manejo das diferentes estruturas clínicas. Na neurose, a interpretação dos sintomas permite ao sujeito acessar seu desejo inconsciente e elaborar sua relação com a Lei simbólica. Na psicose, o trabalho do analista é mais delicado, envolvendo a contenção do Real que invade a vida do sujeito, ajudando-o a construir uma trama simbólica que possa mediar sua experiência. Na perversão, o desafio está em lidar com o gozo do sujeito sem reforçar sua posição de desafio à Lei.

Transferência nas Estruturas Clínicas

Transferência na Neurose

Na neurose, a transferência é geralmente mais estável e mais rica em significados. O paciente neurótico tem acesso ao simbolismo e pode expressar seu desejo e suas angústias de uma forma que pode ser articulada na relação transferencial. As principais características da transferência na neurose incluem:

Sujeito dividido: O neurótico é um sujeito dividido, que lida com a castração simbólica e o desejo de maneira conflituosa. O desejo é mediado pelo Nome-do-Pai, e a transferência pode ser vista como um espaço onde esses conflitos podem ser explorados e trabalhados.

Idealização e Crítica: O neurótico pode idealizar o analista como uma figura que representa o que lhe falta, ao mesmo tempo em que também pode projetar suas críticas e frustrações nessa figura. Essa dinâmica permite um jogo de identificações que pode ser explorado ao longo do tratamento.

Movimento de Regressão: A transferência pode provocar uma regressão temporária, onde o paciente volta a vivenciar situações da infância ou traumas passados, projetando essas experiências na relação com o analista. Esse movimento é fundamental para que o paciente possa reprocessar suas experiências passadas.

Estabelecimento de um Vínculo: A relação transferencial na neurose pode ser mais estável, permitindo que o paciente se sinta seguro o suficiente para explorar seus desejos, ansiedades e medos. O vínculo com o analista pode ser um elemento fundamental na resolução dos conflitos neuróticos.

Na neurose, a transferência pode assumir a forma de amor ou ódio, na medida em que o analista ocupa o lugar de “Outro” que o sujeito busca decifrar. O neurótico, particularmente o histérico, costuma demandar uma resposta que confirme ou negue a sua posição diante do desejo do Outro, enquanto o obsessivo pode buscar controlar a relação transferencial através de jogos de culpa e tentativas de dominação.

Transferência na Histeria

Divisão do Sujeito: Na histeria, o sujeito é frequentemente visto como dividido entre o desejo e a lei, entre o que ele quer e o que é imposto socialmente. Essa divisão se manifesta na transferência como um jogo de sedução e recusa, onde o analista pode ser idealizado ou atacado. O sujeito histérico frequentemente se engaja em dinâmicas de amor e ódio, refletindo sua luta interna entre satisfação do desejo e a castração simbólica.

Projeção do Desejo: A transferência na histeria pode ser marcada por uma intensa projeção do desejo no analista. O paciente pode buscar no analista a realização de suas fantasias, utilizando a transferência como um espaço para explorar seus conflitos amorosos e identitários. Essa projeção pode se expressar em idealizações, mas também em ataques, quando o desejo se torna ameaçador.

Síntomas como Comunicação: Os sintomas histéricos podem ser vistos como uma forma de comunicação do desejo reprimido. Na transferência, o paciente pode utilizar o espaço analítico para expressar essas tensões, buscando que o analista compreenda e valide suas experiências. O analista, por sua vez, pode trabalhar com esses sintomas, ajudando o paciente a simbolizá-los e a encontrar um novo significado.

O Outro como Enigma: O sujeito histérico muitas vezes vê o Outro (neste caso, o analista) como um enigma, como alguém que detém um saber que precisa ser desvendado. Essa relação pode gerar um desejo intenso de entender e se conectar com o analista, mas também pode levar a uma ambivalência em relação à figura do analista, refletindo a luta interna do sujeito entre desejo e castração.

Transferência na Psicose

Fragilidade da Transferência: Na psicose, a transferência pode ser mais frágil e menos estável. O sujeito pode ter dificuldade em estabelecer uma relação transferencial sólida com o analista, uma vez que a sua capacidade de simbolizar e articular o desejo é comprometida. O analista pode ser percebido como um Outro ameaçador ou como um agente persecutório, especialmente em momentos de crise.

Identificação e Projetos de Delírio: O sujeito psicótico pode projetar suas próprias crenças delirantes na figura do analista, atribuindo-lhe significados que não são compartilhados no campo simbólico. Por exemplo, ele pode ver o analista como um aliado ou um inimigo, dependendo da dinâmica do delírio. Essa projeção pode levar a identificações intensas, onde o analista se torna parte do universo delirante do paciente, dificultando a mediação simbólica.

A Transferência e o Real: A relação transferencial no psicótico é permeada pela presença do Real, que muitas vezes invade a experiência do sujeito sem mediação simbólica. Isso pode levar a uma vivência angustiante da transferência, onde o analista é percebido como uma figura que pode desencadear experiências traumáticas ou invasivas. O analista deve ser sensível a essas dinâmicas e evitar agir como um agente do Real.

Resistência à Transferência: A resistência na psicose pode se manifestar como uma recusa em engajar-se na transferência. O sujeito pode se afastar do analista ou evitar estabelecer uma relação significativa, especialmente se sentir que o analista não pode compreender sua experiência ou não está disposto a entrar em seu mundo simbólico. Isso pode ser uma defesa contra a vulnerabilidade que a transferência pode evocar.

Na psicose, a transferência pode ser frágil, atravessada por momentos de identificação delirante com o analista ou, em certos casos, pela recusa do analista como Outro simbólico. A psicose exige uma escuta mais cuidadosa, pois qualquer intervenção mal posicionada pode ser vivida como uma invasão do Real, intensificando a experiência de angústia ou delírio do sujeito psicótico. A função do analista, nesse caso, é muitas vezes a de servir como ponto de ancoragem simbólica, facilitando a construção de uma nova forma de estabilização.

Transferência na Perversão

Relação com o Desejo e a Lei: Na perversão, a relação com o desejo é marcada por uma transgressão da lei. O sujeito perverso se coloca em uma posição em que busca o gozo em relação ao desejo do Outro, muitas vezes desafiando as normas sociais e os limites impostos. Na transferência, isso pode se manifestar em uma busca por um analista que represente um desejo de gozo, onde o sujeito se coloca como alguém que desafia ou transgride as regras.

Projeção de Fantasias: A transferência na perversão é muitas vezes marcada pela projeção de fantasias que envolvem cenários de dominação, submissão e controle. O analista pode ser percebido como um parceiro em um jogo de poder, onde o sujeito perverso busca explorar suas fantasias sexuais e seus limites. Essa dinâmica pode gerar um espaço de gozo, mas também de ambivalência, já que o sujeito pode se sentir ameaçado pelas normas que o cercam.

Subversão da Lei: O sujeito perverso frequentemente se coloca em uma posição de subversão em relação ao Nome-do-Pai e às leis simbólicas. Na transferência, isso pode se manifestar em uma relação onde o analista é testado e desafiado, questionando sua autoridade e sua capacidade de intervir no processo analítico. O analista deve estar atento a essa dinâmica, buscando manter uma posição que permita o trabalho simbólico sem ser capturado pelos jogos de poder do paciente.

Desafio à Autenticidade: O sujeito perverso pode se mostrar em uma constante busca por confirmar seu desejo, mas ao mesmo tempo, pode temer a intimidade e a vulnerabilidade que uma relação transferencial autêntica exige. Na transferência, isso pode resultar em uma relação que oscila entre a busca por conexão e o afastamento, onde o sujeito usa a transferência como uma forma de manter distância emocional.

Na perversão, o analista enfrenta o desafio de não cair na armadilha do gozo do sujeito. O perverso pode tentar usar a transferência para recriar as dinâmicas de transgressão da Lei, buscando subverter o lugar do analista como representante da autoridade simbólica. Aqui, o analista precisa manter-se firme na sua posição de “não-saber”, evitando entrar no jogo de controle e manipulação que o perverso tenta instaurar. Em vez de validar o gozo do sujeito, o analista deve provocar uma reflexão sobre o lugar da Lei e do desejo do Outro.

Com isso, as estruturas clínicas em Lacan oferecem uma lente rica e complexa para entender as diferentes formas de subjetivação e os modos de responder à Lei, ao desejo e ao gozo. A psicanálise, ao abordar essas estruturas, oferece um espaço único para que o sujeito possa confrontar suas questões fundamentais de maneira que possibilite uma elaboração subjetiva.

A escuta do analista, nas diferentes estruturas clínicas, requer uma sensibilidade refinada para detectar as nuances que marcam a forma como o sujeito lida com o desejo e a Lei. Como vimos, as dinâmicas da transferência variam conforme a estrutura clínica, sendo que o manejo adequado da transferência é crucial para o progresso da análise.

A Função do Desejo do Analista

Lacan enfatizou que o desejo do analista é central no processo de análise. No contexto das diferentes estruturas clínicas, o desejo do analista não é um desejo como qualquer outro, mas uma função que visa sustentar a abertura do campo do desejo do sujeito, sem se oferecer como resposta final. O analista deve ser aquele que não cede à tentação de ocupar o lugar do ideal ou da solução para o conflito do analisando.

Nas neuroses, isso significa permitir que o sujeito se depare com seu próprio desejo, revelando as contradições e impasses que estruturam seu sintoma. Na psicose, o desejo do analista precisa ser trabalhado de forma a não intensificar o desamparo do sujeito diante do Real, oferecendo uma contenção simbólica mínima, mas suficiente, para que o sujeito não se veja completamente submerso na angústia psicótica. Na perversão, o desejo do analista deve evitar ser capturado pela sedução do sujeito perverso, que frequentemente busca um Outro conivente com a transgressão.

A escuta analítica, portanto, envolve uma postura ética específica que varia conforme a estrutura clínica. A formação do analista deve incluir uma compreensão profunda de como cada uma dessas estruturas opera, não apenas em termos de seus fenômenos clínicos visíveis, mas também em relação ao modo como o sujeito se insere na linguagem, no desejo e no gozo.

Conclusão

As estruturas clínicas segundo Lacan – neurose, psicose e perversão – oferecem um modelo sofisticado para compreender as diversas formas de subjetivação, enfatizando a relação do sujeito com a linguagem, o desejo e a Lei. Ao contrário de uma abordagem nosológica clássica, Lacan propõe que essas estruturas não são categorias fixas, mas modos de resposta à castração simbólica, ao Nome-do-Pai e à organização do gozo. A distinção entre neurose, psicose e perversão repousa na maneira como o sujeito lida com a função do Nome-do-Pai, sendo essa a chave para entender o funcionamento psíquico em cada estrutura.

Na neurose, o sujeito lida com o desejo de forma ambivalente, preso no conflito entre o recalque e a tentativa de encontrar satisfação no sintoma. A histeria e a neurose obsessiva representam formas distintas dessa luta, onde o sujeito busca, respectivamente, o enigma do desejo do Outro ou a dominação do próprio desejo.

Na psicose, a foraclusão do Nome-do-Pai impede que o sujeito se insira plenamente no simbólico, resultando na invasão do Real sob a forma de delírios e alucinações. A exclusão do significante fundamental leva o sujeito psicótico a viver uma experiência sem a mediação da linguagem, o que provoca uma relação direta e angustiante com o Real.

Na perversão, o sujeito reconhece a Lei, mas a desafia de maneira ativa, buscando o gozo na transgressão. A relação com o desejo do Outro é central, e o perverso encontra satisfação justamente no ato de violar a interdição simbólica, posicionando-se como aquele que “sabe” sobre o desejo do Outro e manipula a Lei para alcançar seu próprio gozo.

O papel do analista nas diferentes estruturas clínicas envolve uma escuta específica, adaptada às necessidades e impasses de cada sujeito. Na neurose, o analista auxilia o sujeito a enfrentar o seu desejo recalcado; na psicose, proporciona uma estabilização simbólica frente à intrusão do Real; e, na perversão, evita ser capturado pelo jogo de manipulação do gozo, mantendo o foco na função da Lei.

A teoria das estruturas clínicas de Lacan, além de fornecer um mapa teórico para a prática psicanalítica, abre caminho para uma abordagem ética que respeita a singularidade de cada sujeito, promovendo uma escuta atenta às nuances de sua posição subjetiva. Na psicanálise lacaniana, a clínica das estruturas é mais do que uma categorização; é uma ferramenta para compreender profundamente o modo como o sujeito se constitui em relação à linguagem, ao desejo e ao gozo, elementos fundamentais para a experiência humana.

Os seminários de Jacques Lacan que abordam as estruturas clínicas — neurose, psicose e perversão:

1. Seminário I: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954)

– Neste seminário, Lacan começa a delinear a noção de inconsciente e discute a importância da linguagem na estruturação do sujeito.

2. Seminário II: O Eu na Teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise (1954-1955)

– Lacan explora a formação do eu e a relação entre a estrutura do sujeito e a linguagem, abordando também a neurose.

3. Seminário III: As Psicoses (1955-1956)

– Aqui, Lacan examina a psicose em profundidade, introduzindo o conceito de foraclusão e como a ausência do Nome-do-Pai impacta a subjetividade psicótica.

4. Seminário IV: A Relação de Objeto (1956-1957)

– Neste seminário, Lacan discute a questão da castração e a relação do sujeito com a Lei simbólica, abordando as estruturas clínicas de forma mais abrangente.

5. Seminário V: As Formações do Inconsciente (1957-1958)

– Lacan investiga como os significantes estruturam o inconsciente e a formação dos sintomas, com implicações para a neurose e a psicose.

6. Seminário VI: O Desejo e sua Interpretação (1958-1959)

– Este seminário aborda o desejo e a Lei, discutindo a transferência e o manejo clínico nas diferentes estruturas.

7. Seminário VII: A Ética da Psicanálise (1959-1960)

– Lacan reflete sobre a ética em relação às estruturas clínicas, focando na transferência e no desejo do analista.

8. Seminário VIII: A Transferência (1960-1961)

– Lacan analisa a dinâmica da transferência nas diferentes estruturas clínicas, especialmente a relação entre o sujeito e o analista.

9. Seminário XI: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise (1964)

– Este seminário é fundamental para entender as dinâmicas do desejo e a estruturação do sujeito nas neuroses e na psicose.

10. Seminário XIII: O objeto pequeno a (1966)

– Lacan aborda o gozo e a relação com a Lei, discutindo a perversão e as diferentes formas de satisfação do desejo.

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