Tag: Como podemos definir psicanálise?

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O início da trajetória psicanalítica por Sigmund Freud

O início da trajetória psicanalítica por Sigmund Freud

INÍCIO DA TRAJETÓRIA DO OLHAR PSICANALÍTICO

Quando iniciamos os estudos em psicanálise percebemos que as “Publicações Pré-Psicanalíticas e Esboços Inéditos – (1886-1899) de Freud falam muito sobre sua trajetória inicial. Dentre essa trajetória relatos a respeito da histeria, doenças do sistema nervoso, alguns estratos de documentos dirigidos a Fliess, projeto para uma psicologia científica; dentre outros. Esse momento é marcado pela experiência em que Freud durante seus estudos e como aluno de Charcot, vivenciou de perto o método de tratamento da histeria na época.

Este escrito é justamente o relato dessa experiência e um momento em que aconteceram muitos questionamentos que levaram Freud posteriormente à discussões e investigações sobre a histeria e a sexualidade que no decorrer se tornaram peças fundamentais da teoria psicanalítica.

Freud admirado pelo trabalho de Charcot, se dedica a se aprofundar no campo das doenças mentais e a compreender o funcionamento da mente e o comportamento humano. Como neurologista, Freud em seu percurso começou a se questionar sobre as explicações convencionais para os problemas relacionados aos distúrbios mentais o que levou ao desenvolvimento de suas teorias revolucionárias sobre o funcionamento da mente ligado aos processos psíquicos.

COMO SURGIU A PSICANÁLISE?

É importante entender que a psicanálise nasceu justamente da pesquisa dos sintomas histéricos. Para Charcot, a histeria era considerada uma doença de origem neurológica que não apresentava nenhuma forma de lesão em exames anatomopatológico, sendo considerada uma perturbação funcional do sistema nervoso. As pesquisas de Freud em relação a histeria fizeram com que fossem levantados questionamentos de como seria possível sintomas físicos em alguns casos não terem ligação nenhuma com o corpo. O Trauma na época era visto como originadas ao corpo e às questões neurológicas. Foi quando se percebeu que o trauma não é inteiramente físico ou neurológico e sim originado também nos processos psíquicos o que levava à possível explicação de como não era possível observar muitas vezes as causas por meio de exames.

Charcot estudou sobre as afasias, aneurismas cerebrais, lesões causadas da ataxia locomotora, atrofias musculares e a relação com o sistema nervoso. Freud fez o levantamento de todo esse trabalho e suas observações levaram a compreender que o trauma não acontece somente no campo físico ou neurológico, mas ocorre também no âmbito psíquico.  Todas essas observações levaram Freud a se interessar cada vez mais a respeito sobre os sintomas ligados aos mecanismos de defesa. Freud cria o termo “mecanismo de defesa” justamente para especificar que os sintomas histéricos são originados de conflitos internos ou traumas não resolvidos, ou seja, os processos psíquicos é uma consequência que molda o comportamento humano.

UM CASO GRAVE DE  HEMIANESTESIA EM UM HOMEM HISTÉRICO

Um dos trabalhos pioneiros de Freud foi um caso grave de Hemianestesia em um homem histérico (1886). Nesse caso foram levantados os questionamentos das origens desses sintomas e na compreensão dos sintomas físicos e psicológicos do paciente, na tentativa de compreender o que existia por trás da hemianestesia e de sua histeria. Freud sugeriu que os sintomas histéricos, incluindo o caso de hemianestesia, tinham origem em raízes psíquicas profundas e enraizadas em experiências traumáticas e conflitos inconscientes. Embora Freud ainda não tivesse desenvolvido os conceitos que viriam a definir a psicanálise neste momento, ele começa a compreender o poder do inconsciente e a formação dos sintomas neuróticos.

Partindo de que os processos psíquicos é um fator que influencia nos sintomas, como resolver os problemas de origem psíquica? Pela escuta! A construção dessa abordagem inovadora na época estava fundamentada justamente na escuta cuidadosa afim de interpretar as narrativas do paciente com o propósito de compreender a origem dos sofrimentos psíquicos causadores dos sintomas.

QUESTIONAMENTOS A RESPEITO DA HIPNOSE E OUTROS TRATAMENTOS DA ÉPOCA

Freud continua seu percurso fazendo muitos questionamentos tais como: sobre a “Resenha de Die Akute Neurasthenie” uma análise crítica realizada por ele sobre a obra de Theodor Averbeck, um neurologista contemporâneo; também a “Resenha de Die Behandlung gewisser Formen von Neurasthenie und Hysterie, de Weir Mitchell” que se tratava de um tratamento voltado à “cura pelo repouso”. Enfim, diversas técnicas em busca de cura para os sintomas e problemas na época foram objetos de questionamento para Freud o que levou ao aperfeiçoamento de sua possível teoria psicanalítica.

Dentre os temas abordados nas “Publicações Pré-Psicanalíticas e esboços inéditos (1886-1899)” temos também relatos sobre “Artigos sobre Hipnotismo e Sugestão” (1888-1892). Nesse momento Freud relata sobre a hipnose como ferramenta utilizada para acessar conteúdos inconscientes. Ele observa como a mente pode ser influenciada e até mesmo controlada por estímulos externos, e como isso pode levar à manifestação de sintomas físicos e psicológicos aparentemente inexplicáveis. Na “Resenha de Hipnotismo, de August Forel (1889)” um neurologista suíço, um dos principais expoentes da hipnoterapia na época; Freud levanta questionamentos mergulhando na teoria e prática do hipnotismo ao mesmo tempo que examina as técnicas usadas por Forel na Clínica.

Durante as análises da prática da hipnose Freud vai observando que existem alguns efeitos terapêuticos a princípio, mas percebe também que no decorrer de novos desafios a pessoa que outrora tinha sido hipnotizada, voltava aos mesmos tipos de problemas novamente. Foi quando Freud se deu conta que o desabafo sem se compreender a raiz de seus problemas não poderia proporcionar resultados tão duradouros na prática da hipnose onde ocorria o rebaixamento do estado de consciência.

A RESISTÊNCIA E A TRANSFERÊNCIA

Com isso Freud compreende que existe a resistência na fala, e que essa resistência é um conflito entre o inconsciente e a repressão. Para Freud a hipnose permitiu a compreensão de que os processos inconscientes causam influência na formação de sintomas no presente, mas que é importante a própria resistência na fala. Por meio da própria resistência na fala, é possível enxergar o inconsciente que se apresenta por meio do sujeito durante a associação livre. É justamente na fala que é possível perceber o que está por trás do que se diz. A própria associação livre é uma retomada do passado sem que o analisando perceba, tudo o que se é falado em análise tem uma ligação com as etapas da infância e seu desenvolvimento que estão sendo articuladas na fase adulta. Outro termo que Freud desenvolve se trata da transferência, um processo que se refere à forma como o sujeito lida com seus sentimentos, desejos e expectativas que foram formados a partir de sua infância; as figuras importantes no início de sua vida e a relação com o objeto de amor.

FLIESS E SUA CONTRIBUIÇÃO NAS TEORIAS FREUDIANAS

Mais adiante temos alguns “Extratos dos Documentos Dirigidos a Fliess” uma compilação de cartas e notas trocadas entre Freud e Fliess. Fliess um médico e amigo íntimo de Freud que mantiveram contato por um determinado tempo e que nesse contato valioso foram trocadas muitas ideias, o que contribuiu para o desenvolvimento de sua teoria psicanalítica. Por volta de 1892 e 1899, Freud estava no auge de sua carreira desenvolvendo suas pesquisas e teorias sobre o inconsciente, a sexualidade e os mecanismos de defesa como já foi dito. Fliess nesse período foi um grande contribuinte e colaborador intelectual que não só foi seu confidente como também influenciou Freud em relação à teoria da bissexualidade e as neuroses. Alguns rumores relatam que depois Freud é acusado de ter plagiado a teoria de Fliess a respeito da bissexualidade como inteiramente sua e também que com o passar do tempo os pensamentos de Fliess em relação aos de Freud foram divergindo ao ponto que foram se afastando e seguindo caminhos diferentes.

A TEORIA DAS ETIOLOGIAS DAS NEUROSES

Alguns rascunhos de Freud nesse mesmo escrito fala sobre alguns temas como: A teoria da Etiologia das neuroses em que ele argumenta sobre os eventos traumáticos na infância e como isso tem relação com a natureza sexual e como consequência influencia nos sintomas neuróticos na vida adulta. Para Freud os impulsos sexuais e a repressão são elementos que constituem a formação dos sintomas neuróticos, ou seja, todas as experiências são interpretadas como mecanismos de defesa que originam para o consciente que resulta em conflito interno que podem ser manifestados por meio de sintomas como a histeria, neurose, ansiedade dentre outros.

No decorrer de outros rascunhos, Freud também observa que os traumas nem sempre são eventos reais; são baseados também em fantasias e percepções distorcidas da realidade da criança. Outro fator, a origem da Angústia: uma de suas principais preocupações era justamente compreender qual a natureza da angústia. Freud propõe que a angústia surge justamente entre o conflito entre o inconsciente (desejos reprimidos) em relação às imposições externas/sociais (Superego). A angústia seria um meio de aviso sobre um perigo eminente; um estado de alerta de uma possível ameaça. A angústia em outras palavras é um mecanismo de defesa que avisa sobre algo que está acontecendo entre as instâncias psíquicas.

Outro tema que Freud relata durante seu percurso se trata do tema sobre a melancolia. Sintoma associado a uma perda significativa que pode ser real ou simbólica. A melancolia segundo seu ponto de vista, está relacionada com a perda de um objeto amado ou a perda de um ideal. Sendo assim, a melancolia estaria ligada ao sentimento de desvalorização e culpa que o sujeito sente e que o leva ao estado de profunda depressão e censura a respeito de si mesmo.

SEXUALIDADE PARA FREUD

Prosseguindo sobre este mesmo escrito, Freud aborda sobre o esquema da sexualidade, uma visão que abrange a questão da sexualidade humana e a ligação com o desenvolvimento psíquico, ou seja, ele propõe que a sexualidade não se limita apenas aos atos físicos sexuais propriamente ditos, e sim também está ligada à personalidade e no desenvolvimento das neuroses. A sexualidade para Freud está presente em todos os âmbitos como o prazer em trabalhar em algo específico, em ler um livro, a forma como a pessoa se comporta dentre outros. Sendo assim, a sexualidade está relacionada em tudo que impulsiona o sujeito a gostar de algo e sua tendência aos seus comportamentos, preferências e crenças.

Sexualidade para Freud tem ligação com o conceito que logo ele introduz como Libido, uma energia sexual que motiva em grande parte do tempo o comportamento humano, esta energia é justamente direcionada de diversas formas de acordo com o processo psíquico do sujeito e a construção de suas neuroses. A libido é justamente essa energia que é direcionada de acordo como foi constituído a construção da sexualidade no sujeito. Essa ligação entre sexualidade e libido estão inteiramente ligadas ao processo de desenvolvimento da infância: desenvolvimento psicossexual.

BREVE COMENTÁRIO SOBRE PSICOSE

Mais adiante em seu escrito temos outro tema relacionado aos delírios paranoides; para Freud essa condição está relacionada com a incapacidade que o sujeito tem de reprimir e construir o que chamamos de neurose. Seria uma falha na repressão onde o ego se vê incapacitado de manter os conteúdos inconscientes, ou seja, o sujeito é incapaz de lidar com a formação da instância psíquica e como consequência, recorre para a projeção fora de si mesmo. A psicose seria justamente o sujeito que não se desligou do seu narcisismo primário, não quebrou o vínculo ilusório entre o objeto de amor acreditando que esse objeto ainda é extensão de si mesmo, não entrando no processo de castração e na substituição de objeto de amor.

INTRODUÇÃO AO EGO/NARCISISMO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO

Freud também introduz o conceito de ego como parte da estrutura psíquica do sujeito. Ele separa o ego em duas etapas: o ego primário e secundário. No processo primário do ego temos um nível primitivo ao qual o sujeito não criou uma visão de si em comparação com o outro, no nível primário o ego está inteiramente voltado para si, seus próprios desejos e necessidades; não havendo distinção entre si e o outro. No ego secundário existe uma elaboração de pensamento. O ego secundário está ligado a capacidade de comparação entre si e os outros e toda a realidade que o cerca, nesse caso temos a formação da repressão que constitui a instância psíquica da neurose, nesse processo psíquico, o superego atua como termômetro tentando medir os processos psíquicos e fazendo julgamento entre o que se deseja e o que acredita ser correto. No ego secundário existe a preocupação em estar alinhado com o pensamento de um outro, nesse momento o ego depende de outro para se reafirmar. Tanto o ego primário quanto o secundário, são meios de sobrevivência que o sujeito utiliza para subsistir e se defender.

HISTERIA, NEUROSE OBSESSIVA E PARANOIA

Continuando pelo percurso, é interessante perceber que durante esse escrito Freud perpassa pela histeria e consequentemente percebe que os sintomas físicos têm origem no psíquico, o que leva a compreender as diferentes formas de manifestações desses processos psíquicos podendo ser eles por meio da neurose obsessiva, paranoia além da histeria que foi comentada no início. Para Freud esse meio de manifestação se chama a princípio de neuroses de defesa.  Na histeria por exemplo observamos que os sintomas físicos não possuem origem orgânica aparente, ou seja, é uma forma de defesa criada por meio de um processo psíquico que desloca um trauma para o próprio corpo. Por outro lado, na neurose obsessiva o mecanismo de defesa está presente na construção de comportamentos compulsivos, pensamentos intrusivos e padrões repetitivos que estão ligados à compulsão pelo próprio pensamento traumático inconsciente.

Por outro lado, na paranoia a mente está em constante estado de alerta, procurando por ameaças reais ou imaginárias no ambiente externo. Freud sugere que isso acontece quando os mecanismos de defesa falham em comedir os impulsos indesejados. Essa falha na repressão causa o que chamamos de projeção de conflito interno para o mundo externo o que faz com que o sujeito fique em constante desconfiança e suspeita não sabendo discernir entre o real e o imaginário. Quando dizemos que não consegue discernir, se trata de usar uma realidade do mundo exterior para explicar uma questão interna por meio da repressão; seria a própria incapacidade de se utilizar da repressão para formar o superego e interagir com as pessoas por meio da neurose que se trata da linguagem que é caracterizada por aqueles que reprimem questões inconscientes, e no lugar é colocado a repressão/consciente o que permite estabelecer a linguagem.

IMPULSOS E ENERGIA VITAL

Freud também aborda a questão dos impulsos não apenas como uma fonte de energia vital, mas também como responsável pelo sofrimento humano. Como os impulsos são tidos para ele como instintos primários e esses instintos residem no inconsciente e o inconsciente influencia a vida do sujeito, essa complexidade interna de conflito entre o desejo, a repressão, dualidade e ambiguidade que ocorre nas instâncias psíquicas, causam o sofrimento. Esses impulsos/energia vital possuem motivos ocultos e significados que escapam à consciência.

O SOFRIMENTO FÍSICO E SUA RELAÇÃO COM O PROCESSO PSÍQUICO

Outro fator importante em que Freud se dedicou, foi a compreender a respeito da experiência da dor e a qualidade na psique, ou seja, como o processo psíquico reage aos estímulos físicos. De uma forma geral como o sujeito lida emocionalmente quando precisa lidar com dores, problemas de saúde e quais sintomas psíquicos podem surgir como consequência do quanto o sujeito aceita determinada situação fisiológica. Indo mais além, qualquer situação seja ela o que chamamos de saúde física, estabilidade financeira, ou relacionamento afetivo; cada uma dessas coisas direcionam o sujeito a sofrer justamente por formulações de ideais; construções de pensamentos que tentam tamponar algo desconhecido como forma de dar sentido para algo inexplicável.

COMO ESTUDAR OS ESCRITOS DE FREUD

É importante entender que no decorrer de suas obras Freud foi aperfeiçando seu olhar e suas teorias que fundamentam o olhar psicanalítico, para ampliar os conhecimentos a respeito de como foram os primeiros passos rumo ao olhar psicanalítico, confira abaixo os primeiros escritos que abordam o tema da histeria e seus primeiros questionamentos em relação aos processos psíquicos:

Escritos de Freud que falam sobre: O início da trajetória psicanalítica por Sigmund Freud

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