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Gozo nas Estruturas Psíquicas segundo Lacan: Neurose, Psicose, Histeria e Perversão

Gozo nas Estruturas Psíquicas segundo Lacan: Neurose, Psicose, Histeria e Perversão

A teoria lacaniana revolucionou a Psicanálise ao propor uma releitura do inconsciente freudiano através de novas categorias e conceitos que ampliam a compreensão das dinâmicas psíquicas. Um desses conceitos centrais é o “gozo”, um termo que em Lacan adquire um significado complexo e ambíguo. O objetivo deste artigo é explorar as formas de gozo nas diferentes estruturas psíquicas (neurose, psicose, histeria e perversão) a partir da teoria lacaniana. Este artigo visa fornecer uma compreensão profunda para estudantes e profissionais da área, destacando as sutilezas do gozo em cada uma dessas configurações psíquicas e suas implicações na prática clínica.

Introdução

O conceito de “gozo” em Lacan é um dos mais intrincados e controversos. Ele ultrapassa o princípio freudiano do prazer, situando-se no campo do excesso, do insuportável, e do que está além da satisfação simbólica. Enquanto o desejo pode ser articulado na linguagem e busca continuamente sua realização (mesmo que nunca plenamente), o gozo está associado à transgressão desse princípio, muitas vezes resultando em sofrimento. Para Lacan, o gozo não é apenas uma experiência positiva, mas está enraizado no conflito e no limite que o sujeito encontra ao se relacionar com o Outro e consigo mesmo.

A teoria lacaniana organiza a subjetividade em três grandes estruturas psíquicas: neurose, psicose e perversão, às quais podemos adicionar a histeria como uma forma particular da neurose. Cada uma dessas estruturas possui modos específicos de se relacionar com o gozo, e é isso que nos propomos a examinar detalhadamente. O entendimento dessas diferenças não é apenas uma questão teórica, mas é crucial para a prática clínica, onde o psicanalista deve reconhecer as formas de gozo do paciente para poder intervir de maneira eficaz.

1. O que é o “Gozo” segundo Lacan?

Lacan ressignifica o conceito de “gozo” ao situá-lo fora do campo do prazer como Freud o havia concebido. Se para Freud o princípio do prazer regula a psique, promovendo a descarga de tensão e evitando o desprazer, para Lacan o gozo se coloca além desse princípio. O gozo lacaniano é, em certo sentido, uma forma de prazer doloroso, pois envolve uma dimensão de excesso que é muitas vezes insuportável para o sujeito.

O gozo está profundamente enraizado nos três registros propostos por Lacan: o Imaginário, o Simbólico e o Real. No registro do Simbólico, o gozo está associado ao Nome-do-Pai e à castração, ou seja, ao limite imposto pela lei e pela linguagem. No Imaginário, o gozo se refere à busca do sujeito por uma completude que nunca será alcançada, uma vez que o sujeito sempre será incompleto em sua relação com o Outro. No Real, o gozo se apresenta como algo inassimilável pela linguagem e pela simbolização, um gozo bruto, desmedido e aterrador.

Uma das fórmulas centrais de Lacan é a relação entre o gozo e o Outro. O Outro, com letra maiúscula, refere-se à instância da linguagem, da lei e da cultura, que molda o sujeito desde o nascimento. O sujeito, ao entrar no campo da linguagem, é “castrado”, ou seja, renuncia a uma parte do seu gozo em prol da inserção na ordem simbólica. Contudo, o gozo permanece sempre em jogo, seja como aquilo que foi perdido (e, portanto, desejado) ou como algo que escapa ao controle simbólico.

2. Gozo na Neurose

O gozo na neurose, segundo Lacan, está profundamente enraizado na relação do sujeito com o desejo e com o Outro. A neurose é caracterizada pela busca incessante do sujeito por uma completude que, paradoxalmente, nunca poderá ser alcançada. O neurótico se encontra em um dilema constante: busca a satisfação plena, a realização de seus desejos e a obtenção de um “objeto” que o tornaria completo, mas, ao mesmo tempo, a própria estrutura neurótica impede que esse objetivo seja verdadeiramente alcançado.

Na neurose, o sujeito é movido pela fantasia de que existe um “objeto” que lhe proporcionará a satisfação completa. Esse objeto, no entanto, é sempre ilusório. Lacan chama esse objeto de “objeto a”, ou objeto pequeno “a”, o qual é algo perdido, que o sujeito acredita que, ao recuperar, o tornará feliz e completo. Esse “objeto” pode ser materializado de diferentes formas, como uma pessoa, uma posição social, uma realização profissional, ou qualquer coisa que o sujeito perceba como essencial para a sua felicidade. O neurótico vive numa eterna busca por esse objeto.

Esse processo de busca está diretamente ligado à ideia de que o gozo, para o neurótico, se dá na relação com o Outro. O Outro, na teoria lacaniana, é uma instância simbólica que representa a lei, a linguagem, o desejo do outro e, muitas vezes, uma figura de autoridade. O sujeito neurótico está preso em um ciclo onde acredita que, ao satisfazer o Outro ou ao adquirir aquilo que o Outro parece desejar, ele também será capaz de satisfazer a si mesmo.

A Insatisfação Estrutural no Gozo Neurótico

O gozo, no contexto da neurose, está inextricavelmente ligado à insatisfação. O sujeito neurótico busca no Outro aquilo que lhe falta, mas, quando parece estar próximo de alcançar essa completude, o gozo recua. Lacan explora essa dinâmica ao afirmar que o sujeito neurótico, embora procure a satisfação total, encontra gozo na própria insatisfação.

Essa insatisfação se dá porque o desejo, como já mencionado, nunca pode ser totalmente preenchido. O que mantém o neurótico em movimento é justamente essa falta, que o impele a continuar buscando. Nesse sentido, o gozo neurótico pode ser visto como um ciclo de busca e frustração, onde o sujeito está eternamente insatisfeito e continuamente em busca de algo que, no fundo, sabe que jamais será plenamente obtido.

O Outro como Fonte de Gozo

O Outro desempenha um papel crucial na neurose. Para o neurótico, o gozo está sempre relacionado ao desejo do Outro. O sujeito acredita que, ao ser desejado pelo Outro ou ao satisfazer as demandas do Outro, ele poderá finalmente obter a felicidade e a completude. Contudo, essa busca pelo reconhecimento do Outro é também uma armadilha, pois o Outro nunca poderá oferecer a satisfação total.

Esse desejo de ser amado, desejado ou reconhecido pelo Outro leva o sujeito neurótico a subordinar seu próprio gozo ao Outro. O neurótico goza na tentativa de agradar ao Outro, de se ajustar às suas expectativas e demandas, mas ao mesmo tempo sofre, porque nunca consegue corresponder plenamente a essas expectativas. O gozo, assim, é tanto uma fonte de prazer quanto de sofrimento, já que está sempre mediado pelo que o Outro deseja ou espera dele.

3. Gozo na Histeria

A histeria, embora seja um subtipo da neurose, possui características próprias que merecem uma análise separada. O sujeito histérico se encontra em uma posição ambígua em relação ao desejo: ele quer ser desejado, mas ao mesmo tempo teme a satisfação plena desse desejo. O gozo histérico, assim, está profundamente ligado à falta e ao desejo insatisfeito.

O sujeito histérico busca, incessantemente, o reconhecimento do Outro. Esse Outro pode ser uma figura de autoridade, como o psicanalista, ou pode ser uma instância mais ampla, como a sociedade ou o parceiro amoroso. No entanto, a satisfação completa nunca é alcançada, pois o sujeito histérico se define pela falta. O gozo, para o histérico, está em manter-se nesse estado de constante busca e insatisfação.

A relação com o desejo do Outro é, portanto, central na histeria. O sujeito se identifica com a falta do Outro e tenta se posicionar como aquele que pode preencher essa falta. Contudo, essa posição é insustentável, pois, ao tentar preencher o desejo do Outro, o sujeito histérico mantém seu próprio desejo em suspenso, vivendo em uma tensão constante entre querer ser o objeto do desejo e evitar a satisfação total.

O Desejo de ser Desejado

Essa forma de gozo histérico está ligada ao desejo de ser desejado, mas sem nunca alcançar a satisfação plena. Para o sujeito histérico, o gozo reside justamente em “alimentar o desejo do Outro”. Ao se oferecer como o objeto da falta do Outro, o histérico evita a consumação direta do gozo, mantendo-se em um estado de incompletude que perpetua a insatisfação.

Dessa forma, o histérico “goza” ao ser o objeto que falta para o Outro, mas paradoxalmente “não goza diretamente”. A satisfação está sempre no horizonte, mas nunca plenamente alcançada. O gozo, então, surge como uma forma de sacrifício, na qual o sujeito histérico abdica de seu próprio gozo para sustentar o desejo do Outro. Ele se satisfaz sendo a causa do desejo do Outro, sem nunca se apropriar desse gozo para si.

Em termos clínicos, isso se manifesta em pacientes histéricos que frequentemente vivem experiências de frustração e insatisfação nas suas relações interpessoais. Eles se colocam em situações onde estão constantemente à espera de que o Outro os deseje ou os reconheça, mas esse reconhecimento nunca é suficiente. O sujeito histérico se mantém na posição de objeto faltante, sempre em busca de preencher o vazio do Outro, mas sem nunca querer, de fato, completar essa lacuna.

4. Gozo na Psicose

A psicose é marcada pela foraclusão do Nome-do-Pai, o que significa que a função simbólica que regula o gozo está ausente ou profundamente comprometida. Como resultado, o sujeito psicótico não tem o mesmo tipo de mediação simbólica que o neurótico em relação ao gozo. O gozo na psicose tende a ser excessivo, sem limites, invadindo o corpo e a mente do sujeito de maneira avassaladora.

O conceito de “gozo” na psicose, segundo Lacan, é profundamente influenciado pela ausência da função simbólica, que se manifesta na foraclusão do Nome-do-Pai. Esse conceito refere-se à falha ou exclusão do elemento que deveria mediar a entrada do sujeito na ordem simbólica, isto é, o Nome-do-Pai, que seria responsável por estabelecer limites e organizar o desejo e o gozo. Sem essa função reguladora, o sujeito psicótico experimenta um gozo que não é filtrado pela linguagem ou pelas leis simbólicas, tornando-o excessivo e sem contenção. Esse gozo “bruto” invade o corpo e a psique, transformando-se em uma força desestabilizadora e incontrolável.

Na esquizofrenia, essa falta de mediação simbólica provoca uma relação caótica entre o sujeito e seu próprio corpo, assim como entre o sujeito e o mundo externo. O gozo, nesse caso, pode se manifestar de forma intrusiva, como se as sensações corporais ou mentais viessem de uma fonte externa e não pudessem ser reguladas ou compreendidas. O sujeito pode vivenciar alucinações, delírios e dissociações corporais, como se estivesse sendo manipulado por uma força externa. Essa invasão do gozo torna difícil para o sujeito distinguir entre o que é real e o que é fantasia, já que o simbólico não está presente para marcar essa diferença.

Na paranóia, o gozo é frequentemente projetado no Outro, criando a sensação de que o sujeito está sendo perseguido ou controlado. O gozo, que na neurose está mediado pelo desejo e pela falta, na psicose paranóica assume uma forma direta e persecutória. O sujeito sente que o Outro está impondo um gozo que ele não pode evitar ou controlar, o que gera intensas angústias e um sentimento constante de ameaça. Esse gozo persecutório pode ser vivenciado como algo que fere o sujeito, invadindo sua mente e corpo de forma opressora.

A Falta do Limite Simbólico

O gozo na psicose também pode se manifestar de forma corporal, com sensações somáticas que fogem ao controle consciente do sujeito. Por exemplo, o corpo pode parecer não pertencer mais ao sujeito, como se estivesse sendo comandado por uma força externa. Esse fenômeno é frequente na esquizofrenia, onde o gozo se expressa como algo fragmentado, que interfere na capacidade do sujeito de se identificar com seu próprio corpo. A falta de um limite simbólico claro permite que o gozo transborde, gerando uma ruptura entre o corpo e a subjetividade.

Ao contrário da neurose, onde o gozo é reprimido e mediado pelo desejo, na psicose não há a possibilidade de estabelecer uma separação clara entre o sujeito e o gozo. Na ausência do Nome-do-Pai, que funciona como uma metáfora reguladora, o gozo se infiltra em todas as dimensões da vida psíquica do sujeito, desorganizando sua relação com o mundo e consigo mesmo. O gozo na psicose não é algo que pode ser controlado ou limitado, mas sim uma força que se impõe de maneira avassaladora, muitas vezes sem que o sujeito tenha qualquer defesa simbólica contra ele.

Essa dinâmica do gozo na psicose tem implicações profundas para a clínica psicanalítica. Trabalhar com sujeitos psicóticos requer um cuidado particular na forma de abordar o gozo, já que ele não pode ser tratado da mesma maneira que nas neuroses. Na psicose, o desafio clínico é tentar criar um espaço simbólico onde o sujeito possa, de alguma forma, limitar e organizar o gozo que o invade. Isso pode ser feito através de intervenções que visam oferecer ao sujeito psicótico uma possibilidade de ancoragem simbólica, mesmo que precária, para que ele possa estabelecer uma relação menos destrutiva com seu próprio gozo.

5. Gozo na Perversão

O conceito de gozo na perversão, segundo Lacan, apresenta uma particularidade em relação à neurose e à psicose, justamente por sua relação direta e desafiadora com a lei simbólica. Na neurose, o sujeito se submete ao Outro e renuncia ao gozo, aceitando as limitações impostas pela lei e pela castração simbólica. Na psicose, o sujeito é incapaz de integrar a lei simbólica, resultando em um gozo desmedido, que invade sua subjetividade de forma descontrolada. Já na perversão, a dinâmica do gozo assume uma forma diferente: o sujeito perverso não renuncia ao gozo e, de fato, encontra formas de incorporá-lo em sua relação com a lei, sem se submeter a ela, mas também sem ser dominado por ele de maneira incontrolável, como acontece na psicose.

Relação com a Lei Simbólica

A perversão se caracteriza pela negação ou subversão da lei simbólica, especialmente no que diz respeito à castração. Enquanto na neurose o sujeito reconhece a castração e se organiza em torno da falta e do desejo, o perverso age como se a castração não existisse ou como se ele pudesse escapar dela. Ele desafia a lei simbólica sem ser aniquilado por ela, mantendo uma relação calculada com o gozo, o que lhe permite explorar formas de satisfação que o neurótico reprime.

Lacan vê o sujeito perverso como alguém que ocupa a posição do Outro em relação ao gozo. Isso significa que o perverso se coloca em um lugar de autoridade, decidindo sobre os limites do desejo e da satisfação. Ao contrário do neurótico, que vive a angústia da castração e o conflito com o desejo, o perverso se posiciona como aquele que “sabe” como lidar com o gozo. Ele se vê como o administrador da lei, o que, em muitos casos, é expresso através da manipulação das normas sociais e morais, usando-as para extrair gozo sem se submeter a elas de maneira passiva.

Gozo sem Renúncia

Um dos traços centrais da perversão, segundo Lacan, é a recusa em renunciar ao gozo. Diferentemente do neurótico, que vive o conflito entre o desejo e a necessidade de repressão, o perverso encontra maneiras de satisfazer seu gozo sem a renúncia simbólica que caracteriza a castração. Isso não significa que o perverso seja incapaz de reconhecer a lei ou que ele não esteja ciente das normas sociais; pelo contrário, ele frequentemente se vale dessas mesmas normas para desafiar e manipular suas regras, encontrando maneiras de escapar à castração.

O gozo perverso pode ser entendido como uma forma de transgressão calculada. Ele desafia os limites impostos pela lei simbólica, mas o faz de maneira consciente e controlada, garantindo que o gozo seja alcançado sem que o sujeito se perca completamente nele, como acontece na psicose. Esse controle sobre o gozo é o que diferencia a perversão da psicose, onde o sujeito é frequentemente dominado por um gozo que excede sua capacidade de controle.

Exemplo do Fetichismo

O fetichismo é um exemplo clássico da perversão e de como o sujeito perverso lida com o gozo. No fetichismo, o objeto fetiche serve como um substituto da falta, permitindo ao sujeito evitar o confronto direto com a castração. O fetiche concentra o gozo, desviando o sujeito da angústia da falta e proporcionando uma satisfação que o neurótico, por exemplo, não é capaz de obter sem enfrentar o conflito e a repressão.

No fetichismo, o objeto fetiche funciona como uma forma de negociação entre a aceitação da castração e a recusa total da mesma. O sujeito perverso encontra uma maneira de se relacionar com a lei sem ser inteiramente limitado por ela, e o fetiche se torna o veículo através do qual o gozo é mantido sem que o sujeito tenha que enfrentar a angústia da falta. Esse manejo do gozo na perversão demonstra a habilidade do perverso de controlar e administrar o gozo de uma forma que o neurose não pode, ao mesmo tempo em que evita o colapso psíquico característico da psicose.

6. A Importância da Compreensão das Estruturas para a Clínica Psicanalítica

Lacan foi enfático ao destacar a importância da compreensão das estruturas psíquicas — neurose, psicose e perversão — como um guia essencial para a prática clínica. Para ele, essas estruturas não são apenas classificações diagnósticas, mas constituem modos fundamentais de organização do sujeito em relação ao gozo, à linguagem e ao Outro. Compreender em qual estrutura o sujeito está inserido é vital, pois o gozo se manifesta de maneira distinta em cada uma delas. Na clínica, essa diferenciação permite que o psicanalista aborde de forma precisa os sintomas e angústias que surgem do modo particular como o sujeito se relaciona com o desejo e com a lei simbólica.

Na neurose, a repressão desempenha um papel central na organização psíquica. O neurótico lida com o gozo de forma conflituosa, tentando constantemente regulá-lo e contê-lo. O sintoma neurótico, seja na forma de histeria ou neurose obsessiva, surge como uma tentativa de manejar esse gozo através de mecanismos simbólicos e imaginários. No tratamento da neurose, o psicanalista deve ajudar o sujeito a explorar os conflitos subjacentes à repressão, facilitando o acesso ao desejo que foi recalcado. Isso envolve trabalhar com as defesas que o sujeito ergue contra o gozo e buscar modos de flexibilizar a relação com o desejo.

Já na psicose, a falta da mediação simbólica do Nome-do-Pai implica em uma ausência de limites claros para o gozo. O sujeito psicótico é invadido por um gozo que não é regulado pela lei simbólica, o que pode resultar em manifestações de excesso e desorganização psíquica. Na clínica com psicóticos, o trabalho envolve a tentativa de restaurar ou criar uma forma de limitação simbólica que permita ao sujeito lidar com o gozo de maneira menos caótica. A reconstrução de algum tipo de referência simbólica, ainda que parcial, pode ser essencial para que o psicótico encontre formas menos invasivas de experimentar o gozo.

A perversão, por sua vez, desafia diretamente a lei simbólica. O sujeito perverso se posiciona em relação ao gozo de maneira a evitar a castração, colocando-se no lugar de quem domina e manipula a relação com o Outro e com a lei. Na clínica da perversão, o desafio é trabalhar com um sujeito que busca evitar a renúncia ao gozo, muitas vezes através de atos que envolvem o gozo do Outro. O psicanalista, nesse caso, deve estar atento para não cair em armadilhas transferenciais nas quais o sujeito perverso tenta colocá-lo em uma posição de objeto de manipulação ou submissão, mantendo, assim, sua dinâmica de controle sobre o gozo.

Lacan aponta que a identificação precisa da estrutura psíquica tem implicações diretas no manejo clínico. Por exemplo, no caso de um neurótico, trabalhar com a interpretação simbólica e o desvelamento do desejo recalcado é um caminho frutífero. Já no caso da psicose, a criação de um espaço de simbolização e contenção do gozo é mais urgente. Com os perversos, por outro lado, o trabalho pode se concentrar em desconstruir a estratégia de recusa da castração e ajudar o sujeito a reconhecer o lugar da lei e do limite, permitindo-lhe um novo tipo de inserção no campo simbólico.

A compreensão das estruturas psíquicas, portanto, é uma bússola indispensável na clínica psicanalítica. Lacan nos ensina que o gozo, nas suas várias formas, está no centro dos sintomas e das angústias do sujeito. Saber identificar como o sujeito se posiciona em relação ao gozo é a chave para uma intervenção eficaz, capaz de promover o movimento subjetivo que o paciente necessita para enfrentar seus impasses e reencontrar-se com seu desejo.

Aqui estão os seminários de Lacan que discutem o conceito de gozo e suas manifestações nas diferentes estruturas psíquicas — neurose, psicose, histeria e perversão:

1. Seminário 4: “A Relação de Objeto” (1956-1957)

– Neste seminário, Lacan explora as noções de desejo e gozo, introduzindo o conceito de “objeto a” como a causa do desejo. Embora o foco principal seja o desejo, Lacan também começa a articular como o gozo se relaciona com diferentes estruturas, incluindo a neurose e a histeria.

2. Seminário 5: “As Formações do Inconsciente” (1957-1958)

– Aqui, Lacan desenvolve sua teoria sobre o inconsciente e como o gozo se manifesta através das formações do inconsciente. Ele começa a delinear como o gozo é tratado diferentemente na neurose e na psicose.

3. Seminário 6: “O Desejo e sua Interpretação” (1958-1959)

– Lacan aprofunda a relação entre desejo e gozo, discutindo como o gozo se articula na neurose e na perversão. Ele explora a castração e a lei simbólica, e como essas influenciam a maneira como o gozo é experimentado.

4. Seminário 7: “A Ética da Psicanálise” (1959-1960)

– Neste seminário, Lacan aborda a ética da psicanálise e o gozo, com foco particular na perversão. Ele discute como o sujeito perverso lida com a lei simbólica e como o gozo é utilizado para desafiar e manipular as normas.

5. Seminário 8: “A Transferência” (1960-1961)

– O seminário foca na transferência e no papel do gozo na relação analítica. Lacan explora como o gozo pode ser um fator crucial na neurose e na perversão, e como o analista deve manejar o gozo na transferência.

6. Seminário 10: “A Angústia” (1962-1963)

– Lacan discute a angústia e sua relação com o gozo, especialmente no contexto da psicose. Ele analisa como a falta de mediação simbólica impacta a experiência do gozo no sujeito psicótico e como isso se manifesta clinicamente.

7. Seminário 14: “A Lógica do Fantasma” (1966-1967)

– Neste seminário, Lacan explora o conceito de fantasma e como o gozo está intrinsecamente ligado a ele. A abordagem inclui uma análise de como diferentes estruturas psíquicas, lidam com o gozo através dos fantasmas.

8. Seminário 18: “A Técnica da Psicanálise” (1970-1971)

– Lacan revisita e refina sua teoria do gozo, discutindo técnicas analíticas para lidar com o gozo nas diferentes estruturas. O seminário oferece reflexões sobre a prática clínica em relação ao gozo na neurose, psicose e perversão.

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