Freud, Lacan e os Desafios da Clínica Atual: Reflexões para Psicanalistas e Estudantes

Freud, Lacan e os Desafios da Clínica Atual: Reflexões para Psicanalistas e Estudantes

1. Introdução

A psicanálise, desde seu nascimento com Sigmund Freud no final do século XIX, tem sido uma disciplina em constante evolução. Freud revolucionou a compreensão do ser humano ao propor a existência do inconsciente, um conceito que abriu novas perspectivas sobre o sofrimento psíquico e suas manifestações. Mais tarde, Jacques Lacan trouxe um retorno rigoroso à obra freudiana, ampliando e reinterpretando os conceitos fundamentais da psicanálise à luz de linguagens estruturais e filosóficas.

No entanto, a contemporaneidade apresenta novos desafios à prática clínica. Vivemos em uma era de rápidas transformações culturais, tecnológicas e sociais, que reconfiguram os modos de subjetivação e alteram as formas de sofrimento psíquico. Questões como ansiedade generalizada, dependência tecnológica, mudanças na dinâmica familiar e uma intensa busca por identidade colocam os psicanalistas diante de cenários complexos e, muitas vezes, inéditos.

Neste artigo, vamos revisitar as bases teóricas de Freud e Lacan, destacando como seus ensinamentos permanecem relevantes para a clínica atual. Em seguida, exploraremos os desafios contemporâneos, buscando oferecer reflexões e orientações práticas para estudantes e profissionais da psicanálise.

2. A Base Teórica: Freud e os Fundamentos da Psicanálise

2.1 O Inconsciente: A Descoberta Revolucionária

Freud redefiniu a compreensão da vida psíquica ao propor o inconsciente como um domínio central e ativo da mente. Antes de Freud, as explicações sobre os comportamentos humanos eram frequentemente limitadas à consciência ou atribuídas a fatores biológicos e espirituais. A introdução do inconsciente revolucionou a forma como o sofrimento psíquico é interpretado, mostrando que sintomas como fobias, tiques e neuroses não eram meros desvios de comportamento, mas manifestações de desejos reprimidos que encontravam vias alternativas de expressão. Obras como A Interpretação dos Sonhos (1900) e Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905) estabeleceram as bases para essa teoria, afirmando que os sonhos, lapsos e sintomas são portadores de significados que precisam ser decifrados.

Na clínica contemporânea, o conceito de inconsciente permanece indispensável. Ele fornece ferramentas para investigar fenômenos que escapam à compreensão lógica, como repetições compulsivas, padrões autossabotadores e emoções aparentemente inexplicáveis. Quando um paciente relata sonhos perturbadores ou repete comportamentos que considera irracionais, o analista pode ajudá-lo a acessar conteúdos inconscientes que revelam conflitos mais profundos. Além disso, a abordagem do inconsciente permite uma escuta diferenciada, que não se limita às palavras ditas, mas considera os silêncios, os lapsos e as ambiguidades como pistas cruciais para a compreensão do sujeito. Assim, o inconsciente não é apenas um conceito teórico, mas uma base prática para desvelar as dinâmicas ocultas que sustentam o sofrimento psíquico.

2.2 Transferência: A Relação no Coração da Clínica

A transferência, descrita por Freud como um dos pilares mais intrigantes da psicanálise, é o processo pelo qual o paciente desloca para o analista sentimentos, fantasias e conflitos inconscientes que originalmente se referiam a figuras significativas de sua história, como os pais ou outros cuidadores. Este fenômeno não é algo que surge de maneira isolada na análise, mas é intrínseco à dinâmica do inconsciente, manifestando-se inevitavelmente no setting analítico. Freud destacou que a transferência é uma resistência porque muitas vezes encobre o verdadeiro núcleo do conflito psíquico, mas também é uma ferramenta terapêutica essencial. É por meio dela que o analista pode acessar camadas profundas do inconsciente, trabalhando as repetições e os padrões relacionais que sustentam o sofrimento do paciente.

Na clínica contemporânea, a transferência mantém seu papel central, mas apresenta nuances específicas ao contexto atual. Em um mundo dominado por relações mediadas por tecnologia, onde o contato humano é frequentemente substituído por interações digitais, o espaço transferencial no consultório pode se tornar um lugar privilegiado para a reconstrução do vínculo humano. A transferência permite que o analista acesse e interprete os modos como o paciente se relaciona com o outro, oferecendo a oportunidade de ressignificar padrões afetivos disfuncionais. Além disso, a escuta da transferência, tanto positiva quanto negativa, possibilita ao analista lidar com os conflitos que emergem na relação terapêutica, revelando os desejos inconscientes que estruturam a subjetividade do paciente.

2.3 Pulsão e o Corpo

Freud definiu a pulsão como uma força intermediária entre o biológico e o psíquico, uma energia que emerge do corpo e busca satisfação em objetos diversos. A pulsão sexual, em particular, ocupa um lugar de destaque na teoria freudiana, pois é considerada o motor principal da dinâmica inconsciente. Essa força pulsional não está vinculada diretamente ao instinto, mas à busca de satisfação em vias que podem ser tanto simbólicas quanto imaginárias. Os sintomas, nesse contexto, podem ser entendidos como expressões indiretas da pulsão, configurando uma tentativa de lidar com os impasses do desejo no campo do inconsciente.

Na contemporaneidade, a dimensão pulsional adquire novos contornos, especialmente diante dos discursos que controlam ou normatizam o corpo. Padrões de beleza inatingíveis, exigências de produtividade e performance, e uma crescente medicalização das experiências humanas impactam profundamente a relação do sujeito com seu corpo e seus desejos. Nesse cenário, a psicanálise oferece um espaço singular de escuta, onde o corpo não é reduzido a uma máquina funcional, mas reconhecido em sua complexidade simbólica e pulsional. Ao trabalhar com a pulsão, o analista ajuda o paciente a confrontar os limites do corpo e a elaborar formas mais livres de lidar com o desejo, resgatando uma relação mais autêntica consigo mesmo e com o outro.

3. Lacan e o Retorno a Freud: Novos Olhares para a Clínica

3.1 O Significante e a Estruturação do Sujeito

Jacques Lacan trouxe uma abordagem inovadora à psicanálise ao articular a teoria freudiana com a linguística estrutural. Afirmar que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem” implica reconhecer que os processos inconscientes não seguem uma lógica linear, mas se organizam em torno de significantes. O significante, para Lacan, é mais do que uma simples palavra; é um elemento que, em sua relação com outros, dá forma e sentido à experiência subjetiva. O sujeito, então, não é um ser pleno e autônomo, mas um efeito dessa rede de significantes, sempre em busca de um significado que nunca se completa.

Na prática clínica, essa concepção desafia o analista a escutar além do conteúdo manifesto da fala do paciente. É necessário captar as nuances, os deslocamentos e os lapsos que emergem como expressões do inconsciente. Por exemplo, repetições de palavras ou a escolha específica de um termo podem revelar traços fundamentais da história do paciente. O analista, ao interpretar esses elementos, não impõe um sentido, mas facilita que o sujeito se aproprie de suas próprias construções simbólicas, reorganizando seu discurso e sua posição diante do desejo.

3.2 O Real, o Simbólico e o Imaginário

A teoria dos três registros – Real, Simbólico e Imaginário – é uma das contribuições mais abrangentes de Lacan para a psicanálise. O registro Simbólico refere-se à dimensão da linguagem, das normas e das leis que estruturam a vida psíquica. O Imaginário, por sua vez, diz respeito às identificações e às imagens que sustentam o ego e as relações especulares. Já o Real é aquilo que permanece fora da simbolização, algo que insiste e se manifesta como um excesso ou uma falta, muitas vezes fonte de angústia ou sintomas.

Na clínica contemporânea, esses registros ajudam o analista a situar os conflitos do paciente e a orientar sua escuta e intervenção. Por exemplo, um sujeito que apresenta sintomas de adição pode estar lidando com uma tentativa de tamponar um buraco no Real, algo que não consegue ser simbolizado nem integrado ao campo imaginário. O trabalho do analista consiste em auxiliar o paciente a construir recursos simbólicos para lidar com o Real de maneira menos destrutiva, permitindo uma maior articulação entre os registros e promovendo um novo equilíbrio subjetivo.

3.3 O Sujeito do Inconsciente e a Singularidade do Caso

Lacan reafirmou a singularidade de cada sujeito, posicionando-se contra qualquer tentativa de normatização ou generalização no campo psicanalítico. Para ele, o sujeito do inconsciente não é um objeto de estudo categorizável, mas um efeito de sua história, de seus traumas e da maneira como lida com a falta constitutiva. A escuta clínica, portanto, deve ser adaptada às especificidades de cada caso, reconhecendo que os sintomas são soluções únicas encontradas pelo sujeito diante de seus impasses.

Essa postura é especialmente relevante na contemporaneidade, onde diagnósticos psiquiátricos tendem a rotular e medicar o sofrimento psíquico, muitas vezes ignorando sua dimensão subjetiva. A psicanálise, ao contrário, oferece um espaço onde o sujeito pode ser ouvido em sua complexidade, sem pressões para se adequar a padrões pré-estabelecidos. Essa abordagem permite ao paciente encontrar formas próprias de lidar com seus conflitos, valorizando sua singularidade e abrindo caminhos para uma maior autonomia e liberdade subjetiva.

4. Os Desafios da Clínica Atual

4.1 Novas Formas de Sofrimento Psíquico

A contemporaneidade trouxe à tona novas expressões de sofrimento psíquico, muitas das quais estão ligadas às mudanças no estilo de vida moderno. Ansiedade crônica, depressão, burnout e dependência de dispositivos digitais são sintomas que refletem o impacto de um mundo hiperconectado e competitivo, no qual o ritmo acelerado e as exigências de produtividade constante deixam pouco espaço para o descanso ou para a introspecção. Esses sintomas frequentemente se apresentam como queixas que parecem isoladas, mas que, na verdade, estão enraizadas em experiências subjetivas profundas e nos impasses de um sujeito pressionado por demandas externas e internas.

A psicanálise, ao priorizar a subjetividade e a singularidade de cada indivíduo, vai além das abordagens reducionistas que categorizam esses fenômenos em diagnósticos pré-estabelecidos. Por exemplo, enquanto a ansiedade é frequentemente tratada apenas como um problema químico ou comportamental, o setting analítico permite ao paciente explorar as origens psíquicas desse sofrimento. Demandas sociais opressivas, conflitos internos não resolvidos e fantasias inconscientes que alimentam o mal-estar podem ser trazidos à tona em um espaço de escuta qualificado. Essa abordagem não busca apenas reduzir sintomas, mas promover um entendimento mais profundo e uma possível transformação no modo como o sujeito lida com suas angústias.

4.2 O Impacto da Modernidade Líquida

O conceito de modernidade líquida, desenvolvido pelo sociólogo Zygmunt Bauman, ajuda a entender a volatilidade das relações humanas e das estruturas sociais na contemporaneidade. Vivemos em uma era de constantes transformações, onde o excesso de opções e a efemeridade dos vínculos criam um cenário de instabilidade emocional. Para o sujeito contemporâneo, a busca por estabilidade em um mundo marcado por mudanças abruptas e exigências adaptativas incessantes gera sentimentos de inadequação, vazio e desamparo. Esses fenômenos frequentemente se manifestam como queixas de solidão, dificuldades de estabelecer vínculos duradouros ou um constante sentimento de não pertencimento.

A clínica psicanalítica, ao oferecer um espaço estruturado e constante, contrasta com essa fluidez da vida moderna. O setting analítico, com sua regularidade, regras e previsibilidade, cria um ambiente em que o sujeito pode se permitir desacelerar, refletir e acessar suas questões mais profundas sem a pressa que domina o mundo externo. Além disso, o papel do analista, como alguém que sustenta uma escuta sem julgamento, permite ao paciente reconstruir sentidos e criar novas formas de lidar com a fluidez das relações e demandas sociais. A psicanálise, nesse contexto, não apenas se adapta ao sujeito da modernidade líquida, mas também oferece um contraponto vital para quem se sente afogado nas incertezas da época.

4.3 Mudanças na Dinâmica Familiar e Social

As transformações nas configurações familiares e sociais nas últimas décadas são evidentes. Famílias monoparentais, casamentos homoafetivos, famílias reconstituídas e novas formas de parentalidade (como a coparentalidade planejada) criaram arranjos que desafiam os padrões tradicionais e questionam conceitos psicanalíticos clássicos, como o papel do pai, da mãe e do Édipo. Além disso, os avanços nas discussões sobre gênero e sexualidade trouxeram à tona temas que, muitas vezes, não encontram precedentes claros na teoria freudiana clássica, exigindo do analista uma postura aberta à escuta de questões que transcendem binarismos e normatividades.

Essa realidade desafia o analista a flexibilizar suas ferramentas conceituais sem perder de vista os fundamentos da psicanálise. Mais do que se fixar em padrões ou ideais normativos, a clínica psicanalítica precisa estar atenta às novas formas de subjetivação que emergem dessas mudanças. A abordagem psicanalítica, ao sustentar uma escuta singular e livre de preconceitos, se torna um espaço privilegiado para que os sujeitos expressem suas experiências em um mundo onde categorias fixas perdem força. Ao mesmo tempo, o analista é convocado a refletir continuamente sobre a ética do seu trabalho e a adaptar suas intervenções às novas configurações da vida psíquica e relacional sem perder de vista a especificidade do inconsciente.

5. Reflexões para o Psicanalista em Formação e para o Profissional Experiente

5.1 A Importância do Estudo Contínuo

A formação psicanalítica é, por natureza, um processo interminável, pois a complexidade do psiquismo humano e das relações sociais não cessa de se transformar. Tanto para o analista em formação quanto para o profissional experiente, o contato permanente com as obras de Freud, Lacan e outros pensadores é essencial para manter a vitalidade e a profundidade do trabalho clínico. Ler e reler textos clássicos como Mal-Estar na Civilização (Freud) ou Os Escritos (Lacan) não é apenas uma prática acadêmica, mas uma forma de renovar a escuta e aprofundar a compreensão dos conceitos que sustentam a psicanálise. Cada leitura, feita em diferentes momentos da vida e da prática, revela nuances antes despercebidas, que enriquecem o olhar do analista sobre o paciente e sobre si mesmo.

Além das obras clássicas, é fundamental dialogar com autores contemporâneos que ampliam os horizontes da psicanálise e a relacionam aos desafios atuais. Pensadores como Judith Butler, com suas reflexões sobre gênero e subjetivação, ou Elisabeth Roudinesco, que aborda a história e a ética da psicanálise, oferecem insights valiosos para enfrentar questões emergentes na clínica, como as novas formas de sofrimento psíquico e os dilemas éticos. Esses diálogos teóricos, longe de substituir os fundamentos clássicos, permitem ao analista situar-se melhor em um mundo em constante transformação, reforçando sua capacidade de responder de maneira criativa e ética às demandas do paciente.

5.2 Supervisão e Análise Pessoal

A supervisão clínica é um recurso inestimável na prática psicanalítica, tanto para estudantes quanto para profissionais consolidados. Ela funciona como um espaço privilegiado para pensar os casos atendidos, refletir sobre as transferências e resistências do paciente e, principalmente, analisar as contratransferências do próprio analista. Essa troca com um supervisor experiente possibilita um olhar externo que ajuda a desatar nós clínicos e a identificar pontos cegos que, de outra forma, poderiam comprometer o andamento da análise. Além disso, a supervisão é uma oportunidade para revisitar conceitos teóricos e aplicá-los de maneira prática, conectando teoria e clínica de forma dinâmica.

Paralelamente, a análise pessoal é indispensável para qualquer psicanalista, independente de sua experiência. Ela não é apenas um requisito para a formação, mas uma ferramenta contínua de autoconhecimento e de trabalho sobre as próprias resistências inconscientes. A prática clínica frequentemente desperta questões internas no analista, que só podem ser elaboradas no espaço protegido da análise pessoal. Dessa forma, o analista não apenas cuida de sua saúde psíquica, mas também assegura que sua escuta permaneça o mais livre possível de preconceitos e identificações que poderiam interferir na relação analítica. Este duplo movimento de supervisão e análise pessoal é o que garante a ética e a qualidade do trabalho clínico.

5.3 O Analista e os Novos Cenários

O mundo contemporâneo apresenta cenários cada vez mais diversificados e desafiadores para o psicanalista. Clínicas sociais, com atendimentos em grupo ou individualizados a preços acessíveis, demandam uma capacidade de adaptação sem perder o rigor técnico e ético. Além disso, o aumento dos atendimentos online, especialmente após a pandemia de COVID-19, trouxe novas questões para o setting analítico. O uso de telas como intermediadoras na relação entre analista e analisando exige uma reflexão profunda sobre temas como a transferência e a construção de um espaço simbólico em um ambiente virtual. Apesar das mudanças de formato, o compromisso com a escuta do sujeito e com a ética da psicanálise deve permanecer inalterado.

Esses novos cenários também colocam em evidência a necessidade de uma postura aberta e flexível por parte do analista. O trabalho com populações vulneráveis, como refugiados, pessoas em situação de pobreza ou sujeitos que enfrentam preconceitos de gênero ou raça, exige uma escuta sensível às especificidades de cada contexto. Da mesma forma, questões relacionadas à identidade de gênero, sexualidade e diversidade cultural estão cada vez mais presentes na clínica. O analista contemporâneo, ao se deparar com essas demandas, deve ser capaz de acolhê-las sem julgamentos e com o suporte teórico necessário para sustentar uma prática que respeite a singularidade do sujeito em sua totalidade. Assim, a psicanálise mantém sua relevância como uma prática que, apesar das transformações do mundo, continua oferecendo um espaço único de escuta e transformação.

Conclusão

Freud e Lacan nos legaram uma psicanálise que continua viva e pulsante, capaz de dialogar com os desafios do presente sem perder sua essência. A psicanálise, enquanto uma prática clínica e um campo de reflexão teórica, sempre teve a capacidade de se reinventar, adequando-se às transformações sociais e culturais. Freud, com suas descobertas sobre o inconsciente, a transferência e a pulsão, estabeleceu as fundações para um entendimento mais profundo do sujeito humano, enquanto Lacan, ao retornar à obra de Freud, renovou conceitos e metodologias, abrindo caminho para novas abordagens e interpretações. A obra dos dois pensadores não apenas sustenta a psicanálise como uma teoria viva, mas também a coloca como uma ferramenta vital para compreender o sofrimento psíquico na contemporaneidade.

A clínica atual, com suas novas configurações de sofrimento e subjetivação, exige dos analistas uma escuta atenta, rigor teórico e flexibilidade prática. O mundo contemporâneo, caracterizado pela aceleração das mudanças tecnológicas, pelo aumento do isolamento social e pela complexificação das relações interpessoais, traz à tona novos desafios para o psicanalista. O sofrimento psíquico não se manifesta mais apenas nos moldes tradicionais, mas também se expressa em formas de angústia existencial, crises de identidade e dificuldades relacionadas à dependência de dispositivos tecnológicos. Neste cenário, a psicanálise deve ser capaz de escutar o sujeito em sua singularidade, respeitando sua subjetividade e evitando reducionismos. O rigor teórico é fundamental para sustentar uma análise aprofundada, mas a flexibilidade prática é o que permitirá ao analista adaptar-se às novas demandas do sujeito contemporâneo.

A formação contínua, a supervisão e a análise pessoal são caminhos fundamentais para enfrentar esses desafios. A psicanálise não é uma prática que se esgota na formação inicial; ela exige um compromisso constante com o aprendizado e a reflexão. A supervisão, nesse contexto, se torna essencial, pois oferece ao analista a possibilidade de refletir sobre sua própria prática e de lidar com as questões transferenciais que surgem no processo terapêutico. Da mesma forma, a análise pessoal do psicanalista é uma condição indispensável para que ele possa atuar de forma ética e eficaz, evitando se envolver em questões que possam interferir na dinâmica clínica. Essas práticas de formação contínua não apenas aprimoram a técnica do psicanalista, mas também garantem que ele esteja preparado para lidar com as complexidades do sofrimento psíquico no cenário contemporâneo.

Mais do que nunca, a psicanálise se apresenta como um espaço único onde o sujeito pode ser escutado em sua singularidade, abrindo possibilidades de transformação e sentido. Em um mundo cada vez mais impessoal e superficial, a clínica psicanalítica oferece ao paciente um espaço de escuta profunda, onde ele pode explorar os aspectos mais íntimos e inconscientes de sua experiência. A singularidade de cada sujeito é respeitada, e a psicanálise se adapta a essa particularidade, ao contrário de outras abordagens terapêuticas que muitas vezes tentam impor um modelo genérico para todos os pacientes. A partir dessa escuta atenta, o sujeito encontra não só uma compreensão maior sobre si mesmo, mas também a possibilidade de reconfigurar seu sofrimento, atribuindo-lhe novos sentidos e possibilitando sua transformação. Esse é o poder terapêutico da psicanálise, que, com sua profundidade e flexibilidade, continua sendo uma das formas mais eficazes de lidar com o sofrimento humano.

Que possamos seguir explorando e reinventando a prática psicanalítica, honrando a tradição de Freud e Lacan enquanto enfrentamos os dilemas de nosso tempo. A psicanálise não é um campo fechado, mas uma prática viva que se renova conforme o tempo passa. Cada nova geração de psicanalistas deve olhar para os clássicos da teoria psicanalítica com respeito, mas também com uma mente aberta para os novos desafios que surgem. O diálogo com outras áreas do conhecimento, como a filosofia, a neurociência e as ciências sociais, pode enriquecer a psicanálise e torná-la ainda mais relevante na abordagem das questões psíquicas contemporâneas. A reinvenção da psicanálise não significa abandonar seus princípios fundamentais, mas adaptá-los ao contexto atual, permitindo que ela continue a oferecer respostas e possibilidades para os desafios do sujeito contemporâneo. A tradição de Freud e Lacan deve ser mantida, mas é com a capacidade de adaptação e inovação que a psicanálise continuará a ser uma ferramenta essencial no cuidado da saúde mental e no entendimento da psique humana.

Escritos de Freud e Seminários de Lacan sobre o Assunto

Baseado nos tópicos abordados nas conversas anteriores, podemos citar alguns escritos de Freud e seminários de Lacan que se relacionam diretamente com os temas da psicanálise e seus desafios na clínica contemporânea, especialmente no que diz respeito ao inconsciente, transferência, pulsão, significante e os três registros de Lacan.

Escritos de Freud:

A Interpretação dos Sonhos (1900)
– Este é um dos textos mais fundamentais de Freud, onde ele explora o inconsciente e a importância da interpretação dos sonhos, essencial para entender os processos psíquicos que se manifestam nos pacientes.

A Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901)
– Freud aborda os lapsos, esquecimentos e outros erros cotidianos, revelando o funcionamento do inconsciente e como ele se manifesta em atividades diárias.

Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905)
– Neste texto, Freud discute as pulsões sexuais e sua importância no desenvolvimento psíquico, abordando temas como a repressão e as complexidades do desejo.

Totem e Tabu (1913)
– Freud examina as origens da civilização e as bases do inconsciente cultural, proporcionando uma reflexão sobre como as dinâmicas psíquicas são formadas por influências culturais e sociais.

O Mal-Estar na Civilização (1930)
– Freud analisa os conflitos entre os desejos humanos e as restrições sociais, abordando a tensão entre o desejo e a repressão no contexto da sociedade moderna.

Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921)
– Freud oferece uma análise sobre o papel da psicanálise no contexto das massas e as dificuldades do sujeito contemporâneo frente à psicologia coletiva e suas consequências para o sofrimento psíquico individual.

Seminários de Lacan:

Seminário I: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954)
– Lacan retorna a Freud e examina seus escritos mais técnicos, oferecendo uma releitura do inconsciente e da transferência, com ênfase na linguagem e na estruturação do sujeito.

Seminário II: O Eu na Teoria de Freud e na Técnica Psicanalítica (1954-1955)
– Lacan discute o conceito do “Eu”, principalmente em relação à teoria freudiana, e sua transformação nas dinâmicas clínicas. Ele também introduz a ideia de identificação e o desenvolvimento do sujeito.

Seminário III: O Significante e a Função do Significante (1955-1956)
– Lacan explora a teoria do significante e como ele estrutura o inconsciente, fundamental para compreender os processos de linguagem e simbolização na clínica.

Seminário VII: A Ética da Psicanálise (1959-1960)
– Lacan apresenta questões fundamentais sobre ética no trabalho clínico, abordando o desejo e a relação do analista com o sujeito, com base nos conceitos de “gozo” e “falta”.

Seminário XI: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise (1964)
– Neste seminário, Lacan discute os conceitos centrais da psicanálise, como transferência, repetição, inconsciente e a noção de sujeito, essenciais para compreender a clínica psicanalítica contemporânea.

Seminário XX: Encore (1972-1973)
– Lacan aprofunda-se no tema do gozo e das formas de subjetivação contemporâneas, discutindo como a clínica deve lidar com as novas formas de sofrimento e as questões de identidade.

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