O Conceito de Sublimação na Psicanálise Segundo Freud

O Conceito de Sublimação na Psicanálise Segundo Freud

Antes de falar sobre o conceito de sublimação é importante compreender que os conflitos gerados entre o ID e o EGO podem ocasionar sintomas. Esses conflitos internos podem ser resolvidos de diversas formas como por meio da repressão, conversão, inversão e no caso do tema que iremos falar “sublimação”. A seguir iremos explicar o conceito de sublimação:

Introdução ao Conceito de Sublimação

A sublimação é um dos conceitos centrais da teoria psicanalítica de Sigmund Freud, que se refere ao processo pelo qual impulsos instintivos, particularmente aqueles de natureza sexual ou agressiva, são transformados em atividades socialmente aceitáveis e criativas. Freud desenvolveu essa ideia ao longo de sua obra, associando-a ao desenvolvimento da cultura, da arte e das realizações humanas.

A sublimação como um dos destinos das pulsões

Na psicanálise, a sublimação é o processo de desviar os impulsos sexuais para novos objetos ou atividades humanas que não estão aparentemente relacionadas à sexualidade, mas que têm origem na pulsão sexual. A sublimação pode ser uma forma de aliviar as tensões e angústias, direcionando-as para algo positivo, construtivo e “bem aceito” pela sociedade. Por exemplo, um artista que sente repressão ou sofre por algo ou alguém pode transferir toda a frustração para a arte, de modo que a sua reação se torne aceitável socialmente.

Sigmund Freud acreditava que a sublimação era um sinal de maturidade e civilização, permitindo que as pessoas funcionassem normalmente de maneiras culturalmente aceitáveis. Ele definiu a sublimação como o processo de desviar os instintos sexuais em atos de maior valor social. Freud afirmava que a capacidade do paciente de sublimar suas pulsões desempenha um grande papel no tratamento analítico.

A sublimação não é uma pulsão em si, mas sim um processo ou mecanismo através do qual as pulsões são redirecionadas ou transformadas. Na teoria psicanalítica de Freud, as pulsões (ou impulsos) são forças instintivas que emergem do inconsciente e buscam satisfação. Essas pulsões são basicamente divididas em duas categorias principais:

  • Pulsões de vida (Eros): Ligadas à sobrevivência, reprodução e prazer, frequentemente associadas à libido ou energia sexual.
  • Pulsões de morte (Thanatos): Ligadas ao desejo de retornar a um estado inorgânico, frequentemente associadas à agressão e destruição.

A sublimação é o processo pelo qual a energia dessas pulsões, especialmente a energia libidinal (derivada das pulsões de vida), é redirecionada para atividades que são socialmente aceitáveis e valorizadas. Em vez de buscar satisfação imediata em formas diretas que podem ser vistas como inaceitáveis ou moralmente problemáticas, a energia pulsional é transformada em algo que contribui para a cultura, a arte, a ciência ou outras formas de realização socialmente valorizadas.

Por exemplo, em vez de expressar impulsos sexuais diretamente, uma pessoa pode sublimá-los através da criação artística, da inovação científica ou do trabalho filantrópico. Da mesma forma, a agressividade pode ser sublimada em esportes competitivos ou em uma carreira que exige precisão e controle, como a cirurgia.

Em resumo, a sublimação é o processo de transformação das pulsões, especialmente aquelas que podem ser consideradas problemáticas ou inaceitáveis, em atividades que são não apenas aceitáveis, mas também potencialmente benéficas para o indivíduo e a sociedade.

O Papel da Sublimação como mecanismo de Defesa

A sublimação, dentro da teoria psicanalítica de Freud, é um dos mecanismos de defesa que o ego utiliza para lidar com desejos e impulsos inconscientes que, se expressos diretamente, poderiam causar angústia ou conflito com as normas sociais. Diferente de outros mecanismos de defesa, como a repressão ou a negação, a sublimação não envolve a supressão dos impulsos, mas sim a transformação desses impulsos em algo positivo e socialmente aceitável. Esse processo protege o ego e previne o desenvolvimento de sintomas neuróticos, permitindo que o indivíduo canalize a energia pulsional de maneiras construtivas.

Em qual fase do desenvolvimento que se inicia a sublimação no sujeito?

A sublimação começa a ocorrer de forma mais significativa durante a fase fálica do desenvolvimento psicossexual, que ocorre aproximadamente entre os 3 e 6 anos de idade.

Durante a fase fálica, as crianças começam a experimentar sentimentos complexos em relação aos pais, como o conhecido Complexo de Édipo. É nesse contexto que os impulsos sexuais e agressivos emergem com mais intensidade, e a criança começa a lidar com esses sentimentos.

A sublimação entra em jogo como um mecanismo pelo qual esses impulsos intensos podem ser redirecionados para atividades mais socialmente aceitáveis. Por exemplo, em vez de expressar diretamente o desejo pelo progenitor do sexo oposto (como sugerido pelo Complexo de Édipo), a criança pode começar a desenvolver interesses em atividades criativas, educacionais ou esportivas. Esse redirecionamento da energia libidinal é uma forma inicial de sublimação, preparando o caminho para processos mais complexos de sublimação que ocorrem na vida adulta.

Após a fase fálica, na fase de latência (aproximadamente dos 6 anos até a puberdade), a sublimação se torna ainda mais evidente. Durante essa fase, os impulsos sexuais são amplamente reprimidos, e as energias associadas são canalizadas para o desenvolvimento de habilidades sociais, acadêmicas e culturais. Assim, a fase de latência é vista como um período em que a sublimação desempenha um papel crucial no desenvolvimento psicossocial da criança.

Freud discutiu o conceito de sublimação em vários de seus escritos ao longo de sua carreira. Abaixo estão alguns dos textos mais importantes em que Freud aborda a sublimação:

  • “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905)

Este é um dos textos fundamentais de Freud, onde ele introduz e desenvolve a teoria do desenvolvimento psicossexual. Embora a sublimação não seja o foco central deste trabalho, Freud menciona a sublimação como um mecanismo pelo qual a energia sexual pode ser desviada para atividades não sexuais e culturalmente valorizadas.

  • “O Caso Schreber” (1911)

Neste estudo de caso, Freud discute a sublimação em relação ao processo de canalização de impulsos reprimidos em formas de expressão mais aceitáveis. O caso é uma análise detalhada de um paciente com paranoia, e Freud menciona como os processos de sublimação podem desempenhar um papel na formação de sintomas neuróticos.

  • “Leonardo da Vinci e uma Lembrança de sua Infância” (1910)

Este ensaio de Freud é uma análise psicanalítica do artista Leonardo da Vinci. Freud utiliza o conceito de sublimação para explicar como Leonardo teria transformado seus impulsos sexuais em uma paixão pela arte e pela ciência, canalizando sua libido em produções culturais extraordinárias.

  • “Além do Princípio do Prazer” (1920)

Neste texto, Freud expande sua teoria das pulsões e explora como a sublimação pode servir como uma maneira de canalizar o impulso de morte (Thanatos) e o impulso de vida (Eros) em atividades construtivas e culturalmente significativas.

  • “O Ego e o Id” (1923)

Freud aprofunda sua teoria da mente, introduzindo as estruturas do ego, id e superego. Ele discute como o ego usa a sublimação para lidar com os impulsos do id de uma forma que seja aceitável tanto para o superego quanto para a realidade externa.

  • “O Mal-Estar na Civilização” (1930)

Neste texto, Freud examina o conflito entre os impulsos individuais e as exigências da sociedade. A sublimação é apresentada como uma maneira pela qual os indivíduos podem lidar com a repressão necessária para viver em uma sociedade civilizada, transformando impulsos instintivos em atividades que beneficiam a cultura e a sociedade.

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