O Que É Resistência na Psicanálise?
A resistência é um dos conceitos centrais na teoria e na prática da psicanálise, introduzido por Sigmund Freud no final do século XIX. A resistência é um fenômeno crucial durante o processo psicanalítico, observado quando o paciente evita ou luta contra o processo de exploração de seu inconsciente. A resistência pode se manifestar de diversas formas e é influenciada por uma série de fatores psíquicos, ou seja, conflitos internos. Para compreender esse fenômeno, é essencial assimilar que segundo a teoria de Freud e de outros estudiosos da psicanálise, várias definições compõe e influenciam a resistência durante a análise.
Freud percebeu que os pacientes muitas vezes resistiam ao processo terapêutico, evitando consciente ou inconscientemente certos pensamentos, sentimentos ou memórias que eram dolorosos ou difíceis de lidar. Sendo assim, a resistência está relacionada a vários fatores psíquicos como: a visão de si mesmo, as crenças, os Significantes e Significados, a Linguagem, o Id, Ego e Superego, a Pulsão, o Complexo de Édipo, a Castração, dentre outros. A seguir iremos abordar cada elemento que se manifesta como resistência durante a análise:
Visão de Si Mesmo e Crenças
A visão que uma pessoa possui a seu respeito e suas crenças, desempenham um papel fundamental durante a análise. A partir do momento em que o indivíduo constrói sua autoimagem, por outro lado ocorre a resistência como um mecanismo de defesa a partir do momento que sua autoimagem é questionada durante a análise e quando os conteúdos inconscientes entre em contradição com a crença daquilo que se acredita ser. Explorar desejos inconscientes que conflitam com sua visão de si podem funcionar como barreiras para o acesso ao inconsciente.
Significantes e Linguagem
Os significantes são termos e conceitos carregados de significado pessoal e cultural, são responsáveis na formação da subjetividade. Segundo Jacques Lacan e seu embasamento na teoria estruturalista, a linguagem e os significantes desempenham papéis centrais na estrutura do inconsciente e na formação do sujeito. Sendo assim, a linguagem é o meio ao qual os significantes são externados e compreendidos. Dessa forma, durante a análise quando ocorre a exploração da linguagem, seus significantes e significados, a resistência ocorre a partir do momento em que a estruturação da linguagem entre em questionamento podendo causar a sensação de falta de significantes em meio a exploração do desconhecido e como ameaça vir à tona ao a falta de sentido por meio da própria linguagem.
Id, Ego e Superego
Id, ego e superego pertencem à segunda tópica da teoria psicanalítica por Freud. Possuem funções distintas, mas que se relacionam e que influenciam na resistência. O id, se trata dos impulsos instintivos e desejos inconscientes, podem gerar conteúdos que para o ego são considerado inaceitáveis. O ego, entra como mediador entre o id e o superego, tentando manter o equilíbrio. O superego, é formado pelas normas morais e éticas, podendo impor uma censura rigorosa em relação ao id. A resistência pode surgir no momento em que o ego temendo o conflito entre o id e o superego, impede a entrada de conteúdos inconscientes na consciência. Por exemplo, uma pessoa com um superego severo pode sentir culpa intensa ao confrontar desejos que considera imorais, levando o ego a resistir a tais percepções para evitar essa culpa.
Pulsão
A pulsão é um conceito central na psicanálise, referindo-se às forças internas que dirigem o comportamento humano. Existem duas pulsões primárias: Eros (pulsão de vida) e Thanatos (pulsão de morte). A resistência pode ser vista como uma manifestação da pulsão de morte, que busca evitar a dor e o sofrimento associados à exploração de memórias traumáticas ou desejos reprimidos. A pulsão de vida, por outro lado, busca a gratificação e a integração, mas também pode encontrar resistência quando confronta forças opostas dentro do indivíduo. A resistência, nesse contexto, pode ser entendida como um mecanismo de defesa contra a angústia gerada pelo conflito entre essas pulsões.
Complexo de Édipo e Castração
O complexo de Édipo é uma fase crucial no desenvolvimento psicossexual, onde a criança desenvolve sentimentos ambivalentes em relação aos pais. A resolução deste complexo é fundamental para a formação do ego e do superego. A ameaça de castração, real ou simbólica, associada a este complexo, pode gerar uma resistência significativa na análise. A castração, em termos freudianos, refere-se à perda de poder ou status e à internalização de limites. O medo da castração pode levar à resistência, pois o indivíduo evita explorar desejos e fantasias que evocam essa ameaça. Por exemplo, um homem pode resistir a reconhecer sentimentos de rivalidade com seu pai ou desejos edípicos pela mãe, temendo a punição simbólica.
Mecanismos de Defesa e a Resistência
A resistência é considerada um mecanismo de defesa. A resistência refere-se às forças que se opõem à descoberta e à aceitação de conteúdos inconscientes durante o processo da livre associação. Freud observou que os pacientes frequentemente demonstram resistência quando se aproximam de pensamentos, memórias ou sentimentos dolorosos ou conflituosos que foram reprimidos. Esse fenômeno é visto como um mecanismo de defesa porque protege o indivíduo de entrar em contato com essas partes da psique que podem causar conflitos ou sofrimento.
Entretanto, a repressão não se limita somente a conteúdos dolorosos, ela inclui qualquer coisa que a mente consciente considere inaceitável ou ameaçadora, mesmo que não seja explicitamente doloroso. Por exemplo, desejos ou impulsos que contradizem valores morais ou sociais também podem ser reprimidos.Durante a prática clínica, muitos conteúdos reprimidos que emergem durante a análise estão associados a experiências traumáticas, conflitos internos ou sentimentos de culpa, o que pode tornar o processo de trazer esses conteúdos à consciência uma experiência dolorosa, mas também potencialmente libertadora e curativa.
As desefas podem se manifestar de algumas formas
– Repressão: um mecanismo de defesa pelo qual uma pessoa inconscientemente exclui pensamentos, memórias ou desejos perturbadores da consciência. Na análise, a resistência pode surgir quando esses conteúdos reprimidos ameaçam emergir. A repressão funciona como um meio de proteção psíquica com o propósito de proteger o indivíduo dos conflitos internos. Na tentativa de evitar o conflito interno, a repressão age como uma manutenção para o equílíbrio, porém os pensamentos reprimidos embora estejam fora da consciência, podem influenciar os comportamentos e emoções do sujeito se manifestando por meio de sintomas, sonhos e atos falhos por exemplo.
– Negação: A negação envolve a recusa em reconhecer aspectos da realidade que causam desconforto. Um analisando por exemplo, pode negar a importância de certas experiências ou sentimentos, resistindo à sua exploração.
– Projeção: A projeção ocorre quando o indivíduo atribui a outros sentimentos ou desejos que não consegue reconhecer em si mesmo. Isso pode levar à resistência quando o analista tenta trazer esses aspectos projetados de volta ao paciente.
– Racionalização: A racionalização é a justificativa lógica ou racional para comportamentos ou sentimentos que têm origens inconscientes. A resistência pode surgir quando o paciente usa explicações racionais para evitar o confronto com a verdadeira natureza de suas motivações.
Por exemplo, um paciente pode mudar de assunto, esquecer compromissos, ou até mesmo desenvolver sintomas físicos quando um tema desconfortável surge na análise. Esses comportamentos são manifestações da resistência, que funcionam para manter conteúdos inconscientes fora da consciência e, assim, proteger o ego do desconforto.
Transferência e Contratransferência
A transferência ocorre quando o paciente projeta sentimentos e atitudes em relação a figuras importantes de seu passado (geralmente os pais) no analista. A resistência pode se manifestar por meio da transferência, em que o paciente reage ao analista com emoções e defesas que originalmente se dirigiam a figuras parentais. Por outro lado, a contratransferência é a resposta emocional do analista às projeções do paciente. Na contratransferência a resposta do analista às projeções do paciente pode também gerar resistência. Se o analista não está consciente de sua própria contratransferência, pode reagir de maneiras que reforçam a resistência do paciente.
Superação da Resistência
Superar a resistência é um dos principais desafios da psicanálise. Por meio de uma combinação entre Análise pessoal, Supervisão e Conteúdo teórico, é possível promover um bom manejo na prática psicanalítica e sua interpretação. O analista poderá ajudar o analisando a reconhecer e compreender suas resistências por meio da observação de como as resistências estão se manifestando, suas possíveis origens, envolvendo a exploração de memórias reprimidas, desejos inconscientes e conflitos internos.
A Importância da Resistência na Terapia
A resistência não é somente vista como um obstáculo a ser superado; ela é um sintoma que oferece uma revelação importante sobre o funcionamento psíquico do analisando. Para Freud, a resistência é uma parte fundamental do processo analítico porque ao enfrentá-la e analisá-la, tanto o analista quanto o analisando podem obter uma compreensão mais profunda dos conflitos inconscientes apresentados na associação livre. Ao observar a resistência, o analista com seu manejo pode ajudar o analisando a diminuir suas defesas, permitindo que conteúdos reprimidos venham à tona de maneira aceitável para proporcionar que o analisando entre a análise e perceba o seu discurso.
Conceito de Resistência nas Obras de Freud
Sigmund Freud abordou o conceito de resistência em vários de seus escritos ao longo de sua carreira. Aqui estão alguns dos textos mais significativos onde Freud discute a resistência:
- “Estudos Sobre a Histeria” (1895) – Co-escrito com Josef Breuer, este trabalho é um dos primeiros textos em que Freud menciona a resistência. Ele discute como os pacientes histéricos frequentemente resistem à lembrança de eventos traumáticos.
- “A Interpretação dos Sonhos” (1900) – Neste livro, Freud explora como a resistência pode impedir a análise e como a interpretação dos sonhos podem ser uma via para o acesso ao inconsciente.
- “Sobre a Psicoterapia” (1905) – Neste texto, Freud discute a resistência como uma parte essencial no processo análise e como o analista deve trabalhar com ela.
- “Cinco Lições de Psicanálise” (1910) – Uma série de palestras em que Freud introduz os conceitos fundamentais da psicanálise, incluindo a resistência.
- “Observações Sobre o Amor Transferencial” (1915) – Freud aborda a resistência no contexto da transferência, onde sentimentos inconscientes do analisando são projetados no analista.
- “Sobre o Início do Tratamento” (1913) – Aqui, Freud discute a resistência como um fenômeno que ocorre frequentemente no início da análise e os métodos para lidar com ela.
- “Além do Princípio do Prazer” (1920) – Freud menciona a resistência em relação às pulsões de vida e morte e a repetição compulsiva.
- “O Ego e o Id” (1923) – Nesta obra, Freud relaciona a resistência aos mecanismos de defesa do ego, aprofundando a compreensão de como o ego protege a consciência de conteúdos perturbadores.
- “Inibições, Sintomas e Ansiedade” (1926) – Freud discute a resistência no contexto de como a ansiedade e os mecanismos de defesa contribuem para a formação de sintomas neuróticos.
- “Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise” (1933) – Neste conjunto de palestras, Freud oferece uma revisão abrangente de seus conceitos, incluindo a resistência, e como ela se manifesta na prática clínica.
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